sábado, abril 07, 2007

Património Fonográfico
«Patr... o que?!»
A necessidade de conhecer e de salvaguardar o Património Fonográfico Português não é uma atitude consciente de cidadania que tenha nascido da acção de ministros ou secretários de Estado da Cultura, de vereadores de cultura, de presidentes de fundações, de docentes universitários ou de directores de conservatórios.
Como andam e qual o estado de conservação dos fundos sonoros portugueses da antiga Emissora Nacional e as centenas de discos de 78 rmp gravados entre 1902 e 1954? Sabia que em 1992 a obra fonográfica de Caruso, gravada entre 1902-1916, foi quase integralmente remasterizada? O que tem sido feito em Portugal nesta matéria?
No que respeita às colecções sonoras de Música Tradicional Portuguesa do século XX, se excluirmos os registos de Armando Leça, pode dizer-se sem risco de ofender ninguém que o Estado Português não buliu uma palha até ao presente.
E da parte dos investigadores universitários nada houve a esperar até finais do século XX em termos de projectos vocacionados para a recolha, inventariação, preservação e utilização crítica de fonogramas. Habituados ao pergaminho, ao papiro, às moedas, às "fontes impressas", às escavações arqueológicas, os investigadores ainda hoje se acomodam mal às correntes da "História Oral" e, atentando na moda campeante da "certificação de competências", nada parece poder esperar-se nos próximos tempos em termos de «história fonográfica». Armando de Carvalho Homem, emérito medievalista, será um caso raro, porventura único, no contexto investigativo português, com vários trabalhos assinados sobre fonografia conimbricense (anos de 1960 e ss.).
Não sendo ministro, nem secretário, nem director geral, o editor e amante da Música Tradicional Portuguesa José Moças trava - e vão corridos mais de dez anos -, longa e tenaz luta pelo resgate de largas centenas de antigos discos de 78 rpm de interesse relevante para a história do teatro, Fado [de Lisboa], guitarradas nos estilos de Lisboa, Porto e Coimbra, música de câmara, folclore e Canção de Coimbra.
Em diversos momentos, desde 2000, jornais e revistas noticiaram os combates travados pelo editor e coleccionador José Moças, e pelo advogado e folclorista José Alberto Sardinha, no sentido de trazer de Londres para Portugal esse caro mas inestimável Património Fonográfico. As negociações arrastam-se penosamente entre os representantes de Bruce Bastin (José Alberto Sardinha e José Moças) e instituições portuguesas como a Câmara Municipal de Lisboa e o Ministério da Cultura.
De todas as vezes que a direcção do Ministério da Cultura muda de titular, o processo negocial como que volta à estaca zero, sendo necessário encetar novas e exasperantes intentonas para sensibilizar ministro(a) e secretário(a). Os municípios de Coimbra e do Porto, sendo partes interessadas nesta matéria, comportam-se como se o processo lhes não dissesse respeito.
Relativamente a Coimbra, sozinho ou formando equipa comigo e com José Anjos de Carvalho, José Moças esforçou-se em 2003 e 2005 por conseguir apoios destinados ao resgate e edição de parte deste Património Fonográfico.
Gorada a parte financeira, não ficaram em ponto morto os longos, penosos e caros trabalhos de inventariação fonográfica, levantamento de biografias, fixação de letras e restabelecimento de autorias. Constituíndo frequentemente equipa com José Anjos de Carvalho, entre um e outro, temos feito sair em primeira mão neste Blog trabalhos de inventariação fonográfica relativos a nomes como José Dias, Irmãos Caetanos, Elísio Matos, Paradela de Oliveira, Edmundo Bettencourt, António Batoque, Carlos Leal, Lucas Junot, Armando Goes, Almeida d'Eça ou António Menano.
Todos esses trabalhos, os já findos e os que se encontram em processo de feitura, foram realizados e editados sem quaisquer financiamentos ou auferimento de honorários, à luz de uma militância cívica que visa a salvaguarda patrimonial, a partilha de informações e a afirmação da muita estima que nos merecem José Moças, José Alberto Sardinha e Octávio Sérgio.
Isto que acabamos de dizer não comporta qualquer equívoco!
Não sabemos se o plano de resgate dos "discos londrinos" chegará a bom porto. Não sendo parte no processo, nem dele esperando quaisquer benefícios económicos, só podemos desejar aos Amigos José Alberto Sardinha e José Moças os melhores êxitos. Para já, leia-se, de Alexandra Carita, "FADO DO ESPÓLIO. MC E CML ASSINARAM PROTOCOLO DE AQUISIÇÃO SEM CONSULTAREM PROPRIETÁRIO", in «Actual. Expresso", Nº 1797, de 06 de Abril de 2007, pp. 18-19.
AMNunes

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