quinta-feira, janeiro 18, 2007

Minuette I para Guitarra e Baixo de Manoel Joze Vidigal. Este minueto é o primeiro de uma série de 6 que Joaquim Pinho me enviou.
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Caro Octávio Sérgio
Muito louvo esta sua iniciativa da transcrição e edição dos minuetos de Vidigal. Pediria ao Prof. Joaquim Pinho a amabilidade de contextualização mais circunstanciada do conteúdo deste caderno, de que existe digitalização integral on line no site da Biblioteca Nacional: "Tesouros da Música. Seis Minuettes para Guitarra [Ingleza] e Baixo compostos por Manuel Joze Vidigal", Lisboa, Real Fabrica da Muzica, 1796, cota C. I. C. 29P, http://purl.pt/369/1/ficha-obra-minuettes.html.
Manuel José Vidigal, músico profissional e executante de Guitarra Inglesa em Lisboa entre o último quartel do século XVIII e os inícios do século XIX terá sido um artista bem conhecido em Coimbra, tal como também o era o portuense António da Silva Leite.
Não andarei muito longe da verdade se escrever que o reportório salonístico praticado por Vidigal era o mais cobiçado, pese embora a popularização de melodias arruáveis como a "Cruel Saudade" (Cruel saudade de meus amores), cuja fama atravessou todo o século XIX. Músicos ilustrados como o lente José Maurício e estudantes anónimos conheceriam amostragens da obra de Vidigal, da mesma forma que tinham acesso ao reportório impresso de um Robert de Visée ou de um J. Ph. Rameau.
Outras peças do referido artista, possivelmente conhecidas em Coimbra, seriam as constantes do caderno manuscrito da Biblioteca Geral da UC "Varias Pessas para se tocar em Guitarra do Anno de 1808", onde consta a famigerada "Marcha dos Cavalinhos" (algumas delas já reconstituídas e gravadas por Pedro Caldeira Cabral).
Entre o século XVIII e os inícios do século XIX, a Guitarra Inglesa era conhecida e tocada em Coimbra, mas muito ligada à cultura de salão e a um reportório culto comum aos gostos das elites europeias: minuetos, marchas, gigas, rondós, cotilhões, contradanças, variações sobre música clássica e em contexto mais vincadamente luso-brasileiro as modinhas e lunduns.
Será preciso aguardarmos o Romantismo oitocentista para vermos a Guitarra Inglesa ganhar uma dimensão regional/etnográfica, acusando notória mudança de reportório e de clientelas: difunde-se o gosto pelos fados e danças folclóricas transformadas em rapsódias (todas as combinações eram possíveis, passando pela chula, vira, malhão, corridinho...). Ainda assim, a "regionalização" reportorial da Guitarra nunca afastou por completo o gosto votado ao uso de músicas de dimensão europeia como a Valsa, a Polca, a Mazurca ou a Escocesa. Aliás, à medida que o discurso identitário debruçado sobre as virtudes nacionalistas/regionalistas tendeu a endurecer, as incongruências tornaram-se evidentes: no caso de Coimbra, o abuso linguístico chegava ao ponto de rotular uma valsa, uma polca, uma marcha ou uma tango de "fado". O único critério de validação deste insólito argumento residia na estranha crença de que tudo o que fosse cantado ou tocado com acompanhamento de Guitarra só podia ser "fado". Deste equívoco podiam resultar frases do tipo "o fado que nós vamos cantar a seguir é o Vira de Coimbra" (sic).
AMNunes

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