sábado, julho 15, 2006


"Fados e Baladas de Coimbra"Posted by Picasa
Ilustração do artista Fernando Guerreiro, impressa no interior do livreto do CD "Fados e Baladas de Coimbra", Lisboa, Colecção O FADO DO PÚBLICO, disco nº 7, 1ª edição de 2 de Junho de 2004, numa acção conjunta da CORDA SECA/PÚBLICO (2ª edição desde Maio de 2006). Os textos de apresentação foram repartidos entre António de Almeida Santos e José Miguel Júdice.
Em crónica recente, intitulado "Fados com Açúcar", questionei vigorosamente a acuidade e pertinência da inclusão deste cd, bem como do dedicado a Carlos Paredes, nesta colecção sonora, que viu a luz do dia completada com textos do Prof. Ruy Vieira Nery. Verdade seja dita e reafirmada, continuo a não vislumbrar a menor pertinência entre a linha editorial geral que presidiu à colecção e os fonogramas aqui expostos.
Excluindo trechos do "Fado Hylario Moderno", o disco não incorpora qualquer amostragem apta a confirmar as alegadas parentelas oitocentistas entre o FADO e o vulgarmente chamado "Fado de Coimbra". Uma tal amostragem, para revestir um mínimo de seriedade de credibilidade, teria de incluir temas reconstituídos com vocalizações e instrumentos de época, centrados nos seguintes segmentos ilustrativos: a) exemplares de fados narrativos em modo menor, com letra estruturada em décimas, com acontece em melodias do tipo "Jorge e Juliana"; b) fados corridos, de que é exemplo o tantas vezes gravado "Fado Corrido de Coimbra"; c) fados instrumentais para solo de guitarra como o "Fado em Dó", de Borges de Sousa; d) amostras do fado coreográfico Beirão, tão presente em recolhas folclóricas; e) canções fadográficas como o "Fado do Fim", de Paradela de Oliveira.
A produção do Fado (de Lisboa) gira, desde os alvores da década de 1930, em torno de estruturas específicas da Indústria de Bens Culturais de Entretenimento. Esta indústria, além de não se compadecer com amadorismos, não só não está obrigada a respeitar a vernaculidade de um Bem Cultural, como pode mesmo reinventar a sua própria versão de acontecimentos, bens e produtos. Há uma Canção de Coimbra tradicionalmente produzida em Coimbra, cujos mitemas, formas de apresentação e construções temático-sonoras não coincidem com o chamado "Fado de Coimbra" fabricado em sede de casas de fado.
A reinvenção de "tradições" para fins de entretenimento de públicos massificados não ocorre apenas em contexto do chamado "Fado de Coimbra" concebido e apresentado pelas casas de fados actuantes na Região de Lisboa.
Muitos espectáculos da Brodway ficcionam estórias, de modo a galvenizarem o grande público. É bem conhecida a história da família austríaca Von Trap, reciclada pela Brodway e consagrada como versão "oficiosa" pelo realizador Robert Wise, da 20 th Century Fox, no filme "Música no Coração" (1965). A diferença entre os contos infantis dos Irmãos Grimm e Charles Perrault no que respeita às versões Disney "Branca de Neve os Sete Anões" (1937), "Cinderela" (1950) e "A Bela Adormecida" (1955) é flagrante. Os contos foram reescritos e adaptados ao estilo de vida americano, há anacronismos primários em termos de cenários, de guarda-roupa e de bandas sonoras. Como seriam estes contos se abordados por realizadores europeus?
Outro exemplo prende-se com as incursões virtuais dos estúdios de Hollywood a grandes temas da história do Egipto, de Israel e de Roma. As misérias da caracterização de estúdio, as imprecisões dos cenários, a total falta de realismo face ao quotidiano, o guarda-roupa anacrónico e muito "fashion", as manipulações ideológicas da história, constituem assuntos abordados por Jean-Loup Bourget in "L'Histoire au Cinéma. Le passé retrouvé", Paris, Gallimard, 1992. Um dos anacronismos mais célebres de Hollywood foi justamente a inclusão de camelos na película "A Terra dos Faraós" (1956).
Na lógica da indústria de bens culturais destinados às massas, o "parecer" importa muito mais do que o "ser". Na lógica da sociedade de consumo pouco interessa que o produto apresentado seja um autêntico "simulacro" (Jean Baudrillard, "A sociedade de consumo", Lisboa, Edições 70, 1991; idem, "Simulacros e Simulações", Lisboa, Relógio d'Água, 1991).
Terá o artista Fernando Guerreiro compreendido um pouco daquilo que foi e vai sendo a Canção de Coimbra, quando assinou ilustrações do tipo Brodway/Parque Mayer/Disney, com estudantes de capa em pose de teatro de revista e ostensivas Guitarras de Fado (de Lisboa)?
AMNunes


Grupo Romance, logo à noite, na Galeria Almedina. Notícia do Diário de Coimbra de hoje. Posted by Picasa


Rui Namora em Guimarães e no à Capella. Posted by Picasa


Rui Namora novamente em acção com a sua guitarra. Programa dos concertos em Guimarães e no à Capella.Posted by Picasa


Serenatas na Galeria Almedina. Segue-se o grupo "Quarto Crescente". Diário as Beiras de ontem, com texto de Ana Luísa Barroso.
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sexta-feira, julho 14, 2006


Dr. Afonso de Sousa Posted by Picasa
O Dr. Afonso de Sousa (1906-1993) fotografado na sua casa de Leiria, no dia 24 de Novembro de 1989, data em que ofertou ao Museu Académico a Guitarra Toeira de Coimbra que usara enquanto estudante. Para variar, tenta dedilhar um trecho de uma composição do seu querido amigo e "mestre" Artur Paredes, numa guitarra moderna proveniente dos Grácios.
Não sendo um conservador no plano político e artístico, Afonso de Sousa foi sempre um adepto da antiga Guitarra Toeira. Interpelando o amigo sobre o assunto, Artur Paredes respondia-lhe que um artista devia procurar soluções/experiências distanciadas da estagnação. A Guitarra de Coimbra moderna, de tipo parediano, adequava-se perfeitamente ao temperamento arrebatado e ao estilo enérgico de Artur Paredes. Mais calmo, Afonso de Sousa entendia que os dois cordofones podiam ter lugar no panorâma artístico conimbricense, de acordo com as solicitações dos executantes e amostras reportoriais a trabalhar.
O "partido" de Artur Paredes venceu em toda a linha, mas lá no fundo a razão estava do lado de Afonso de Sousa. Aliás, o processo de implantação do novo modelo de guitarra não foi rápido nem pacífico. O instrumento só triunfou nas formações juvenis conimbricenses por meados da década de 1950. Na década de 1960 ainda se viam guitarristas das décadas de 20/30/40 com o velho modelo de Guitarra Toeira. Nos meios populares locais menos afectos a Artur Paredes e mais dados à herança de Flávio Rodrigues, por muitos anos se argumentou que o novo modelo de guitarra não se adequava a incarnar convenientemente as tradições musicais de Coimbra. Na opinião destes alvitristas, quase todos salatinas ou salatinas deslocados para as periferias da cidade após as demolições salazaristas, a "verdadeira" Guitarra de Coimbra era a Guitarra Toeira. No caso das formações activas na cidade do Porto não há dados disponíveis sobre o onde e o quando da substituição do modelo antigo pelo moderno.
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(mensagem remetida pelo Dr. Afonso de Oliveira Sousa
Caro Dr. Nunes:
acabo de ler o blog ( é assim que se diz ? ) sobre o meu Pai, dedilhando em casa. E convenci-me, definitivamente, de que é um profundo analista da história coimbrã. De facto, o meu Pai era um romântico, pecando até pela adoração do ultra-romantismo. Daí que é seguramente verdadeira a sua análise: ele tinha saudades da guitarra toeira, para interpretar certos temas, que gostava adocicados. Mas, por outro lado, tinha uma grande admiração pelo Artur Paredes. E acabou por encomendar aos Grácios 3 guitarras "paredianas ". Duas delas ainda estão cá em casa. A última foi encomendada dois ou três anos antes da morte.Tenho pena de não a saber tocar, pois irá perdendo as qualidades. Mas sabe? Fui vítima de muitos serões aqui em Leiria, de grandes vultos. O Artur Paredes vinha cá passar férias ( o meu Pai era a única pessoa que o conseguia arrastar para uma casa alheia). Eu, à noite, pequenito ou adolescente, ficava-me a ouvi-los. E foi então que me convenci de que não valia a pena tentar... Bastava ouvir o Paredes tocar, na perfeição as "Czardas" (para aquecer os dedos), para que qualquer veleidade própria me abandonasse. Assim se faz a história dos não dotados... Ao menos que lhes reste alguma memória do que viram ou ouviram. Ou que façam história, como o meu Amigo!)
AMNunes


Augusto Hylario Posted by Picasa
Rara fotografia de corpo inteiro de Augusto Hylario da Costa Alves (1864-1896), "à futrica", isto é, vestido com trajo masculino civil corrente. O documento terá sido realizado entre a Primavera de 1894 (quando se tornou famoso por conta do seu "Fado Serenata") e inícios de Março de 1895 (homenagem a João de Deus, em Lisboa). Há fortes possibilidades da encenação ter ocorrido num estúdio em Coimbra, durante o 2º semestre de 1994, ou talvez no Porto (contactos com César das Neves e equipa do "Cancioneiro de Músicas Populares").
O instrumento fotografado corresponde à guitarra utilizada por Hylario na 1ª metade da década de 1890, cordofone que levou para Lisboa e com o qual homenageou João de Deus nas cerimónias de Março de 1895, mas que não trouxe de volta para Coimbra. A historieta é bem conhecida e não merece contestação. No auge dos aplausos, durante o sarau no Teatro D. Maria, Hylario atirou a guitarra para meio do público. Voltou para Coimbra com uma guitarrilha de modelo lisboeta, instrumento conservado no Museu Académico.
O cordofone exibido nesta foto de estúdio é basicamente uma Guitarra do Porto, com a sua típica voluta floral, chapa de leque e escala mais alongada. Mostra rosácea na boca, sinal de prolongada herança da Guitarra Inglesa. Na época de Hylario as casas de violaria da cidade do Porto exportavam muitas guitarras para Coimbra. Outras eram compradas directamente por estudantes em trânsito do Porto para Coimbra (ida aos estudos; conclusão do Liceu no Porto e consequente matrícula em Coimbra). A maior parte das guitarras fabricadas nas oficinas portuenses, mas destinadas aos clientes de Coimbra, eram para todos os efeitos guitarras do tipo portuense, tendo por única diferença escalas mais compridas (maior espaçamento dos trastos) e mais diâmetro de caixa de ressonância. Uma variante da Guitarra do Porto que também se usou (pouco) em Coimbra foi a guitarra de 15 cordas, com a qual e para a qual o estudante de Direito José Maria de Magalhães Pimentel Cochofel compôs a valsa "Três Graças".
AMNunes

Duo à Rainha Santa



























































Cançoneta para 2 vozes e "guião" (baixo instrumental), em castelhano, de autor anónimo do século XVII. Forma AB, com estribilho (A) em ritmo binário e copla (B) em ternário. Manteve-se a ortografia original.
Poderá ser de 1661, data que figura no fólio 1 do manuscrito (MM 223 da Bilioteca Geral da Universidade de Coimbra, proveniente do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra), num "Romance a 4 à Rainha Santa" que já publiquei em "500 Anos de Poliphonia Portuguesa" (Grupo Vocal Ad Libitum, Coimbra, Maio de 2000; a peça foi então gravada por este mesmo grupo).
O original está em muito mau estado, com furos que se devem à acidez da tinta empregue -razão por que a transcrição, iniciada em 2000, só foi concluida ... em 2006! Sei que, entretanto, este manuscrito -cuja degradação é progressiva e irreversível- foi digitalizado na íntegra na Secção das Músicas da Biblioteca. É a salvação possível para o que nele há de mais precioso: o seu conteúdo musical.
Um agradecimento especial ao Dr. Maia Amaral, e ao sr. Simões e à D. Abília Quintela Scheidl, inexcedíveis no cuidado e profissionalismo com que tratam o espólio musical da Biblioteca Geral, e na atenção com que recebem, por igual, todos os investigadores ou simples leitores que frequentam as Secções das Músicas e dos Reservados.
Flávio Pinho


Guerra Junqueiro Posted by Picasa
O jovem Guerra Junqueiro de Capa e Batina, por volta de 1872-73. Abílio Manuel Guerra Junqueiro, filho de José Junqueiro e de Ana Guerra, nasceu em São João Baptista, Concelho de Freixo de Espada à Cinta, no dia 15 de Setembro de 1850. Veio a falecer em Lisboa, no dia 7 de Julho de 1923. Após estudos primários no Porto (1862), fez o Liceu de Coimbra e matriculou-se na Faculdade de Teologia da UC em 1866. Iniciou Direito em 1868, curso que viria a concluir no ano de 1873.
Junqueiro foi um poeta muito aplaudido por monárquicos, republicanos e adeptos do Estado Novo, sobretudo quando reforçadas as facetas infanto-ruralista e nacionalista da sua produção. Trechos dos seus poemas aparecem em António Menano, Reynaldo Varella, Alexandre Rey Colaço, António Viana, Manassés de Lacerda e Condessa de Proença-a-Velha. Nos meios rurais de Portugal continental e insular quantos idosos não trauteiam ainda hoje o célebre "Regresso ao Lar"?
Fonte: Prof. Henrique Manuel Pereira, "Viajar com... Guerra Junqueiro", Caixotim Edições, 2003, pág. 4 (o autor é professor e investigador na Universidade Católica/Porto, tendo estabelecido proveitosos contactos com o blog, no sentido de se proceder a um levantamento de poemas de Junqueiro cantados em Coimbra)
AMNunes

CANÇÃO DA NOITE
(FADO DAS TRÊS HORAS)
Música: Reynaldo Augusto Álvares Pereira Leite da Silva Pinto Varella (1867-1940)
Letra: Bráulio Lauro Pereira da Silva Caldas
Incipit: Murmura, rio, murmura
Origem: Caldas de Vizela
Data: 1887





















Murmura, rio, murmura,
É doce o teu murmurar;
Que tristeza, que ternura,
Tu tens no teu soluçar.

Pela calada da noite,
Enquanto não surge a aurora,
Qu’esta minh’alma se afoite,
Suspira, guitarra, chora!

Voga, barco, mansamente,
Pelas águas prateadas,
Leva este canto dolente,
Aos peitos das namoradas!

Cada nota tão sentida,
Que a minha guitarra envia,
É uma canção dolorida,
D’amor e melancolia.

E estas canções eu trago-as
Presas nas asas da brisa,
Para espalhar sobre as águas,
Enquanto o barco desliza!...

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º dístico e repete-se.
Esquema de acompanhamento do registo Varella:
1º Dístico: Ré M, 2ªRé 2ªRé, Ré M;
2º Dístico: 2ªSi, Si m 2ªLá, Lá M; (1ª vez)
2º Dístico: Sol M, Ré M 2ªRé, Ré M; (2ª vez)

Informação complementar:
A notação musical e respectiva letra vêm transcritas no “Cancioneiro de Músicas Populares”, Porto, Typographia Occidental, 1893/1895/1898, de César das Neves (1841-1920) e Gualdino de Campos (1847-1919). É uma serenata e tem por título Canção da Noite.
Esta serenata, em compasso 2/4 e tom de Mi Bemol Maior, é vulgarmente designada por “Fado das Três Horas”, título com que os seus autores a baptizaram por ter sido àquela hora da noite que foi improvisada dentro de um barco, vogando no rio Vizela, numa noite de paródia e serenata nas Termas das Caldas de Vizela, em 1887 (Cf. Pinto de Carvalho, História do Fado, Lisboa, Dom Quixote, 1984, pág. 274).
Composição dolente, fruto dos sensibilidades estudantis e burguesas da Belle Époque, apresenta preocupações literárias, ao gosto do reportório habitualmente cultivado pelos modinheiros e serenateiros de Coimbra. A monotonia dada pela repetição da “silva de cantigas” (5 quadras) podia quebrar-se bisando os dísticos em coro logo após o desempenho do solista, e com a valorização dos separadores (ex: guitarra, violão, rabeca, flauta).
O “Fado das Três Horas” correu Portugal através dos fascículos “12 Cantos Populares”, 2ª Série, Porto, Casa Eduardo da Fonseca. Esta brochura impressa vendia-se a 500 réis nos primeiros anos do século XX e atingiu pelo menos uma 3ª edição antes de 1910. Nesta edição, as partituras vinham harmonizadas para piano, base utilizada pelos regentes das tunas e filarmónicas de província para adaptar reportório urbano em voga. Na década de 1940, o “Fado das Três Horas” ainda era prato forte de muitas filarmónicas, tunas, orquestras ligeiras e rapsódias interpretadas por bandas militares.
Bráulio Caldas, de seu nome completo Bráulio Lauro Pereira da Silva Caldas, então quartanista de Direito, era natural de Caldas de Vizela e foi o autor dos versos. No ano seguinte, o quintanista Bráulio Caldas assinou a letra Hino do Curso do V Ano Jurídico de 1887-1888, música de Augusto Matos, em cuja Récita de Despedida foi cantado. Esta Récita, que abriu com o Hino Académico, seguido do Hino do Curso, foi levada à cena na noite de 12 de no Teatro Circo Saraiva de Carvalho, da Figueira da Foz, e ali repetida na noite seguinte, por o Teatro Académico ter começado a ser demolido. A peça, "uma opereta em 3 actos e 6 quadros" intitulava-se "A Revolta dos Caloiros".
Serenata gravada primeiramente por Reynaldo Varella, com esta letra mas sob o título Fado das 3 Horas (Disque pour Gramophone, G.C. –62921, master 7513, de 78 rpm, disco de uma só face), no ano de 1904, sendo que o cantor também executa o acompanhamento elementar de guitarra em afinação natural. Varella omite na matriz fonográfica a última copla da letra original e protagoniza uma vocalização algo incaracterística. O mesmo cantor protagonizou uma 2ª gravação desta serenata em Lisboa, por volta de 1911, no 78 rpm Homokord 9232.
Esta serenata foi gravada na Primavera de 1928, sob o título Fado das Três Horas, por António Menano, com versos de Abílio Manuel Guerra Junqueiro (1850-1923), extraídos da popular obra “A Morte de D. João” (1874). Adoptando uma vocalização em tudo superior à protagonizada por Reynaldo Varella, António Menano torna a melodia mais apelativa: puxando pelos galões de tenor, canta o tema em Mi Maior com enorme à vontade (um tom acima de Varella), substitui o compasso 2/4 pelo 4/4 e incorpora na repetição dos dísticos ais neumáticos ao “estilo Manassés de Lacerda”.
O“Fado das Três Horas” já era conhecido e cantado em Coimbra muito antes do registo fonográfico de António Menano. Possivelmente foi trazido pelo próprio autor da letra original, Bráulio Caldas. Reynaldo Varella foi um compositor, guitarrista e cantor muito popular nos auditórios conimbricenses, graças à edição das suas obras em partitura impressa e às dezenas de discos que gravou entre 1904 e 1912.
Eis a letra gravada por António Menano:

Passei-te rente ao mirante,
(Ai) E dei de cara contigo,
E tu lançaste ao mendigo
O teu olhar - um diamante.

A lua, pastor bendito,
(Ai) Com seu rebanho de estrelas,
Vai vendo se alguma delas
Se perde pelo infinito.
Esquema do acompanhamento do registo Menano:
1º Dístico: Mi M, 2ªMi 2ªMi, Lá m, Lá7ªdim, Mi M;
2º Dístico: 2ªDó#, Dó# m 2ªSi, Si M; (1ª vez)
2º Dístico: Lá M, Mi M 2ªMi, Mi M; (2ª vez)

A variante conimbricense foi gravada por António Menano na Primavera de 1928, em Lisboa, versão que viria a prevalecer sobre a original: discos ODEON, 136.820 e A136.820 – Og 693. Nos dois discos não figura qualquer indicação quanto a autorias. O acompanhamento de guitarra, em afinação natural, é muito rudimentar, desconhecendo-se o nome do tocador.
Discos provenientes da mesma gravação:
Fonograms vinil: “Album de Fados de Coimbra – António Menano”, Lisboa, EMI-Valentim de Carvalho 2612281, Volume II, ano de 1986, LP 1, Lado 2, Faixa nº 2, com singela indicação de "popular".
Compact disc: CD “António Menano – Fados”, Vol. II, Lisboa, EMI-VC 7243 8 36445 2 0, editado em 1995, Faixa nº 4, com transcrição da letra cantada e correcta identificação das autorias.
A letra da versão Menano, cantada e mesmo escrita, nem sempre está correcta, estropiamento esse devido à aprendizagem de outiva. O erro mais comum costuma ocorrer no 4º verso da 1ª quadra de Guerra Junqueiro, prevalecendo “O teu olhar de amante” sobre o original “O teu olhar – um diamante”.
Gravações de outros cantores:
- CD “Balada das Capas Negras”, Espacial 3200097, ano de 1995, faixa nº 12. Canta José Horácio Miranda, acompanhado por Fernando Monteiro/António Lopes (gg) e Nuno Figueiredo/Luís Santos (vv). Indicação singela de “tradicional”;
- LP “Cantar à Lua”, Edisom 606576, ano de 1990, Lado 1, faixa nº 4. Canta Janita Salomé, acompanhado por António Portugal/António Brojo (gg) e Luís Filipe/Humberto Matias (vv). Na ficha técnica consta erradamente “Popular. António Menano”. Remasterização no CD “Serenata Monumental”, Lisboa, Movieplay Portuguesa, MOV 30.487 A-B, ano de 2003, Cd nº 2, faixa nº 4;
- CD “Quinteto de Coimbra. Guitarra e Canção de Coimbra”, Coimbra, Quinteto de Coimbra/Casa de Fados, Lda., ano de 2001, faixa nº 10, grupo formado por Patrick Mendes/António Ataíde (vozes), Ricardo Jorge Dias (g), Nuno Botelho/Pedro Lopes (vv). Não especifica quem faz a interpretação vocal, estando correctas as autorias.
Esta serenata correu em solfa manuscrita, com o título modificado para “Novo Fado da Beira”, com outra letra:

Nasci nas praias do mar,
Embalaram-me ondas mil;
Foi meu berço o barco leve,
Foi meu manto o céu d’anil.”
(popular)

“Vão as nuvens pelo céu,
Vão as aves pelo ar;
Vai na dança, junto ao meu,
O coração do meu par!”
(autor desconhecido)

“Por te amar perdi Deus,
Por teu amor me perdi,
Agora, vejo-me só…
Sem Deus, sem amor, sem ti!”
(popular)

“Os olhos d’Inês são pretos,
Os de Júlia cor do céu;
Dizer quais são mais formosos
Decerto não posso eu…”
(José da Cunha e Costa Vasconcelos Delgado).

A quadra “Os olhos d’Inês” pertencia a uma modinha coimbrã feita em 1862 pelo compositor José Vasconcelos Delgado, cujo título era “Os Olhos Negros e os Azues. Modinha para canto e Viollão”, autor estudado por Francisco Faria (1980) para sustentar que as modinhas tiveram papel de relevo na génese e consolidação da Canção de Coimbra.
A versão original e integral de 1887 foi apresentada pelo Grupo Folclórico de Coimbra na serenata popular anual de Junho de 2004, ao lado de recolhas como Moreninha (Chamaste-me moreninha), Minha Teresa (Acorda, minha Teresa), Balada da Beira (Lá vai o combóio à ponte), e Fado João de Deus (Quando vejo a minha amada).

Transcrição: Octávio Sérgio (2006)
Textos: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Agradecimentos: José Moças (Tradisom), Alexandre Bateiras

quinta-feira, julho 13, 2006

"O fado de Coimbra

Fado tradicional de Coimbra, muito ligado às tradições académicas da Universidade de Coimbra. É exclusivamente cantado por homens. Tanto os cantores como os músicos vestem de negro. Os temas respeitam os amores estudantis e o amor pela cidade. O mais conhecido dos fados de Coimbra é Coimbra é uma canção, que teve um êxito assinalável em toda a Europa com a letra Avril au Portugal."

O título e a pseudo-tentativa de definição foram extraídos do endereço «http://pt.wikipedia.org/wiki/Fado», numa ilustração clara do anedotário que habitualmente rodeia a Canção de Coimbra. Lendo os dicionários e enciclopédias, sobra-nos a impressão de que em matérias de História da Canção de Coimbra vence o signatário que lançar a pior das enormidades, como se estivéssemos em presença de um qualquer concurso do tipo "a Canção de Coimbra em disparates". A fraseologia empregue não define rigorosamente o objecto. A alusão ao negro é flutuante e imprecisa. A exemplificação temática é pobre e dogmática. A escolha do tema é anedótica. "Coimbra é uma lição", de Raul Ferrão/José Galhardo, não é nem nunca foi um tema da CC. Começou por ser uma cançoneta ligeira, divulgada no âmbito de teatro de revista do Parque Mayer, que conheceu sucesso no Brasil, França e EUA, após a interpretação de Amália Rodrigues no ainda hoje controverso filme "Capas Negras" (1947). Até 1974 esta canção foi veementemente rejeitada em Coimbra, tanto nos sectores de direita como nos de esquerda, símbolo da mistificação cultural e da tentativa de manipulação da cultura tradicional académica pela indústria de bens culturais de consumo massificado. Parece, no entanto, que após 1974, a pós-modernidade e a amnésia se foram encarregando de alterar o estatuto da "Coimbra é uma Lição". Espera-se pois que a Wikipédia seja menos WIKI e mais PÉDIA!

(O facto de a Wikipédia se afirmar como uma "enciclopédia" digital aberta à edição/correcção/acrescentamento indiferenciado de matérias e de "autores", não constitui desculpa para a consagração da asneira. Continuo a pensar que uma enciclopédia deve ser escrita por especialistas nas várias matérias abordadas, sob pena de constituir um repositório de tolices e de bárbaras banalidades. O facto de termos opiniões sobre o futebol ou sobre a mecânica automóvel não nos certifica nem habilita de forma rigorosa e credível para assinarmos textos em dicionários e enciclopédias relativos a tais assuntos. Como tal, o argumento da "boa vontade" não colhe. Boa vontade não necessáriamente sinónimo de qualidade/substância. Quanto à necessidade e acuidade de uma boa definição do que seja a Canção de Coimbra, não vejo que lá se possa chegar sem muito trabalho de bastidores e longas reflexões multidisciplinares. Podemos começar por dizer que é um Género Artístico eclético, nascido na Alta de Coimbra na transição do Barroco para o Romantismo oitocentista. E convém parar por aqui! Tudo o mais será temerário, ou de "árdua definibilidade", como já escreveu Armando Luís de Carvalho Homem, sobretudo quando os atávicos e armadilhados pecadilhos do costume espreitam: a) o alinhamento acrítico da Canção de Coimbra na grande família do FADO; c) a espúria redução de um género artístico multifacetado a uma espécie de "essência" plasmada nas composições estróficas)

AMNunes


Eduardo Carvalho (II) Posted by Picasa
O gaiteiro de Ribeira de Frades, Ti Chico Gato (Eduardo Carvalho), numa arruada da Queima das Fitas de 17-22 de Maio de 1957, em pleno Bairro Latino. Fotografia divulgada por Cristina Henriques/Paula Rocha/Teresa Barbosa, "Coimbra. Vida Académica", Coimbra, Edição da CCQF, 1990, pág. 121.
AMNunes



Almeida Santos é entrevistado por Carlos Carranca no suplemento Fim-de-Semana do Diário de Coimbra do dia 22-10-2004.
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quarta-feira, julho 12, 2006


João de Deus Posted by Picasa
João de Deus Ramos (1830-1896), ou João de Deus PAI, é unanimemente considerado um dos mais lendários boémios da Academia de Coimbra. Nesta imagem de 1855, surge fotografado de Capa e Batina, calção, meia alta e gorro, com farta bigodaça, ao lado do seu colega e amigo José de Sousa Vilhena. João de Deus arrimou a Coimbra em 1849, com o intuito de concluir os estudos preparatórios no Seminário Episcopal. Nesse mesmo ano acabava de formar-se em Medicina o notável executante de Viola Toeira, José Dória. Diploma obtido, João de Deus matriculou-se na Faculdade de Direito da UC no ano lectivo de 1849-1850, tendo assinado nos documentos de matrícula João de Deus NOGUEIRA Ramos, em homenagem ao seu padrinho de baptismo.
Estudos interrompidos, regressou à UC em 1851-1852. Só viria a bacharelar-se em 1859. Entre 1859 e 1862 residiu com regularidade em Coimbra, cidade onde se destinguiu como poeta, jornalista e tradutor.
Que João de Deus era beberrão, indolente, cábula, poeta repentista e satírico, noctívago, tocador de "banza", protagonista de cantorias, tudo isso é bem sabido. Que músicas interpretava e que cordofone tocava, aí reinam a confusão e a mistificação resultantes da ausência de estudos e do repisar acrítico de afirmações profundamente envelhecidas.
Importará saber que João de Deus foi, entre outras coisas, um excelente desenhador e um anedoteiro de truz. A este propósito, torna-se útil revisitar, de Manuel Teixeira Gomes, "Desenhos e anedotas de João de Deus". Quanto ao repertório musical, João de Deus dominava as modas em voga no folclore de Coimbra, como o Ladrão, o Manuel Ceguinho, o Malhão e o Água leva o Regadinho, peças essas que utilizava a título de descantes, com letras de sua autoria. Conhecia e interpretava as modas "goliardas", ou o cancioneiro estudantil satírico e de convívio, como os anfiguris, o Torradinhas com Manteiga, Era o vinho Meu Bem era o Vinho, Quitollis. Também dominava as baladas, as modinhas, os lunduns e as romanças que ao tempo eram prato forte nos salões e serenatas.
Uma das peças que mais recorrentemente interpretava era o CHORADINHO DE COIMBRA, uma curiosíssima canção com refrão que conseguimos resgatar em 2003 a partir do repertório do cantor Francisco Caetano (assinalado nas recolhas orais pelo Doutor Nelson Borges). Do reportório comum de serenata faziam ainda parte, nessa época, a Moreninha, a Raptada e a Tricana d'Aldeia. Iam gerando furor a Noite de Encanto, o Noivado do Sepulcro, Meu Anjo Escuta e a Partida, espécimes onde a assinatura do estudante de Direito e poeta Soares de Passos tinha assinalado peso.
Nenhum tipo de FADO fazia parte das opções artísticas de João de Deus. Nem o fado narrativo (décimas) em lamentoso modo menor, nem o popularíssimo FADO DA SEVERA, nem o elementar Fado Corrido, nem os fados coreográficos tão dançados nas Fogueiras de São João da Alta Salatina. Entrevistado, muitos anos após a conclusão do curso, João de Deus foi peremptório neste assunto. Enquanto estudante nunca cultivou qualquer tipo de FADO, visto que este género musical era considerado pelas pessoas de bem (e nas pessoas de bem deveriam incluir-se os estudantes universitários) um produto marginal, identificativo de prostitutas, criminosos e mendigos ambulantes. Repare-se que João de Deus não negou que o FADO fosse amado e cultivado em Coimbra. Limitou-se apenas a negar que o tivesse praticado, rejeição que encontramos ainda muita viva nas elites estudantis da década de 1860.
Outra mistificação ligada a João de Deus, enquanto agente da Galáxia Sonora Coimbrã, prende-se com a aparentemente inquestionável certeza quanto ao cordofone habitualmente dedilhado pelo poeta. Em todas as obras impressas onde se fala de João de Deus, antigas e recentes, repisa-se que foi tocador de "guitarra". Este dogma da "guitarra" radica no facto de João de Deus se identificar e de ter sido identificado como tocador (parece que bastante apreciável, embora inferior a José Dória) de BANZA.
Como os escritos foram produzidos em contexto do Fado (de Lisboa) e em Lisboa a guitarra era vulgalmente designada por "banza", deduziu-se erroneamente que João de Deus havia sido guitarrista. Sendo certo que nos meios fadísticos era comum designar-se a guitarra por "banza", o mesmo instrumento também conhecia outros mimos populares como BANDURRA e até FARRUSCA (Coimbra). Há que ter certas cautelas com as ambivalências do vocabulário, pois se não soubessemos que nos séculos XVIII e XIX a guitarra-cítara era identificada como "bandurra", cairíamos no logro fácil de invocar a bandurra espanhola ou até a Viola Beiroa (popularmente chamada de Bandurra na Região de Castelo Branco).
Em entrevista, o próprio João de Deus esclareceu que nunca tocara guitarra no tempo de estudante, só se tendo interessado pela guitarra já radicado em Lisboa, pelas décadas de 1870-1880. Então que cordofone tocava João de Deus? Teófilo Braga, recolector e estudioso da obra de João de Deus dá a resposta, de forma clara e inequívoca. João de Deus tocava "viola de arame", isto é, Viola Toeira. A mesma resposta é confirmada pelo admirador de João de Deus, Reis Dâmaso, no texto "João de Deus e a sua obra". Redescobrir João de Deus implica saber que na Coimbra de oitocentos o cordofone popularmente designado por BANZA era a Viola Toeira e não a guitarra, sobretudo porque nos meios conimbricenses o uso da Guitarra Inglesa (e sucedâneos actualizados) tendeu a prolongar-se no tempo.
Por testemunhos credíveis, registados após a morte do poeta, sabe-se que ao sair de Coimbra em 1862, João de Deus levou a sua Viola Toeira, instrumento que manteve e tocou regularmente em casa. Também se sabe que algumas horas antes de falecer, a 9 de Janeiro de 1896, pelas 13 horas, pediu aos familiares que lhe trouxessem a sua viola (declarações de Frederico Alves). Dedilhou-a pela derradeira vez no quarto, reconheceu que o fim se aproximava e submeteu-se às consultas dos médicos Carlos Tavares (9/10/1896) e Sousa Martins (10/10/1896). Faleceu na sua casa de Lisboa, pelas 21:45 h do dia 10 de Outubro de 1896.
Caso semelhante a este apenas conhecemos o de Carlos Paredes que nos anos terminais via e acariciava a sua guitarra de estimação.
AMNunes


Guitarrinho de Coimbra Posted by Picasa
O que é o "Guitarrinho de Coimbra"? Requinta da Guitarra de Coimbra? Bandolim de fabrico menos perfeito? Talvez Cavaquinho?
Desde a 2ª metade da década de 1980 nos foram chegando referências soltas ao "guitarrinho". Ernesto Veiga de Oliveira tinha falado deste cordofone, por alto, referindo que nas décadas de 1950-1960 era muito exportado de oficinas bracarenses para clientes da Região de Coimbra. Falava-se da eventual existência de exemplares num coleccionador particular de Tentúgal e nalgum dos herdeiros do salatina José Lopes da Fonseca. Quanto ao resto, nem vê-los.
No dia 15 de Maio de 2006, Octávio Sérgio fotografou uma réplica do Guitarrinho (exemplar de Tentúgal), exposta na banca do violeiro Adérito Marques, na VI Feira do Artesanato de Coimbra (12 a 18 de Maio de 2006). Por Adérito Marques, com oficina em Andorinho, soubemos que já expusera uma réplica do Guitarrinho na mesma feira, em Maio de 2005. Adérito Marques teve acesso ao coleccionador de Tentúgal, "Zé do Arménio", por intermédio do Dr. José Machado Lopes, dimâmico e zeloso membro do Grupo Etnográfico de Defesa do Património e Ambiente da Região da Pampilhosa.
O exemplar exposto na Feira do Artesanato de Coimbra/2006 era uma encomenda feita pelo Dr. Machado Lopes. Tratava-se de uma réplica modernizada, ao nível da caixa, pá e afinadores. O construtor informou-nos que adoptara a afinação natural Ré, Si, Sol, Sol, que nos parece corresponder à afinação do cavaquinho da Região de Braga no toque rasgado (afinação de varejar"). Pelo Dr. Machado Lopes ficámos a saber que em Tentúgal o Guitarrinho seria utilizado como instrumento de iniciação de alunos que pretendiam aperfeiçoar-se no bandolim. Neste caso, afinação adoptada seria Mi, Lá, Ré, Sol, e não a proposta por Adérito Marques.
O único exemplar existente em Coimbra, do nosso conhecimento, corresponde à fotografia supra, realizada na casa de habitação de Maria José Lopes, filha do famoso tocador de violão, barbeiro, serenateiro e actor amador José Lopes da Fonseca (1883-1976), dito Zé Trego.
No caso de Coimbra, o Guitarrinho era encordoardo com 4 cordas de aço fino, afinado e tocado de rasgado, exactamente como se de um cavaquinho se tratasse. A sua afinação era Ré, Sol, Si, Mi.
O exemplar de Zé Trego sofreu um restauro muito pouco primoroso, realizado por intermédio da casa Olímpio Medina. Como está, torna-se impossível afiná-lo e tocá-lo.
*
Em 12-2-09 recebi o seguinte e-mail:
Venho por este meio fazer uma rectificação da afirmação feita relativamente ao restauro efectuado ao guitarrinho de Coimbra, efectuado pela Casa Olímpio Medina, que em boa verdade foi bem feito, tendo a afirmação de que era impossível afiná-lo e tocá-lo ter sido consequência de uma simples troca de cordas.
Tendo sido resolvido o problema das cordas, é pois possível tocá-lo e mantém também o som original aguitarrado.

A autoria desta rectificação é do actual detentor do referido guitarrinho e neto de José Lopes da Fonseca ( Zé Trego).
*
Daquilo que vimos, fotografámos e medimos: estamos em presença de um cavaquinho em forma de bandolim. O braço está dividido em 17 trastos de latão amarelo, sendo a escala em madeira de pau-santo, com ligeiríssimo abaulamento. O comprimento da corda vibrante é de 48 cms. Tem boca redonda, com 6 cms de diâmetro. A ornamentação é muito frugal, tipicamente coimbrã. A ilharga, junto ao atadilho, mede 6 cms, e 5,5 cms ao cepo. Junto à pá, a largura do braço tem 4,5 cms, e 5 cms no rebordo da boca. A pá de madeira, com 4 cravelhas, mede 14 cms de comprimento. A caixa, de configuração piriforme, mede 28cms por 35 cms.
Na réplica de Adérito Marques, o construtor empregou pau preto na escala, spruce no tampo superior e cipreste nas ilhargas e fundo.
Morreu o Guitarrinho, longa vida ao Guitarrinho de Coimbra!
Agradecimentos: com um especial abraço ao Dr. José Machado Lopes; a Maria José Lopes pelas inesgotáveis e sentidas coisas que conta da sua Alta Salatina
AMNunes


Joaquim Carriço Posted by Picasa
Anverso do CD "Joaquim Carriço. Quinta do Valongo. Vacariça. Mealhada", Sons da Terra, Nº 16, STMC 0532, ano de 2004. Recolha levada a cabo em 6 de Março de 2004 por Mário Correia, também signatário do texto do livreto. Nascido em 1929, o gaiteiro Joaquim Pereira Carriço participou longamente em peditórios, procissões, cortejos, bailes de terreiro e festividades como a Queima das Fitas da UC. Nesta gravação, Carriço utiliza uma gaita de foles de traça galega (o que é pena), sendo acompanhado em bombo por Manuel Pereira e em caixa por Emitério Saraiva. São 16 espécimes gravados ao vivo, com destaque para uma versão do "Fado Hilário".
MENSAGEM enviada pelo Eng. Henrique Oliveira em 13 de Julho de 2006, estudioso e entusiasta de matérias correlacionadas com a gaita-de-foles, a quem devemos a informação relativa às recolhas sonoras divulgadas pela editora Sons da Terra:
Caro Dr. António Nunes,
Parabéns pelo seu site que tenho consultado e onde muito tenho aprendido. Escrevo-lhe depois de ler o seu texto sobre a gravação do Mário Correia com o ti Carriço. É que não precisa lamentar a traça galega da gaita do ti Carriço. Ele utilizou na gravação o ponteiro que usa normalmente, ou seja, um dos dois ponteiros feitos pelo José Mendes Seco, um dos últimos artesãos conimbricences que construiu gaitas e que ainda tem várias em uso entre os mais idosos gaiteiros da região de Coimbra. E oponteiro é a alma da gaita, pelo que não diminui o valor do instrumento do ti Carriço que desde há muitos anos é constituído de facto por uma gaita galega, mas, mais importante que tudo, dotada de um velho e rústico ponteiro de factura regional. Foi aliás esse um dos motivos que me levou, logo que conheci o ti Carriço, a insistir nesse gaiteiro junto do Mário Correia, para ele que efectuasse gravações do seu repertório, registando também assim, com meios técnicos de que não disponho, o timbre de um dos últimos ponteiros de factura regional coimbrã. Se ouvir a gravação com atenção, reparará que o timbre é distinto do dos modernos ponteiros galegos principalmente por estes ponteiros rústicos terem um cone interior mais aberto do que os galegos modernos. Produzem um timbre que eu muito aprecio, mais cheio e menos estridente que os galegos, timbre esse que é contudo apelidado de "roufenho" por quem prefere os finos e leves tubos melódicos das gaitas importadas da Galiza. Boa continuação do seu precioso blog.
Saudações cordiais,
Henrique Oliveira
(Bem-Haja o Amigo Eng. Henrique Oliveira, mas o mérito vai todo inteirinho para o autor da ideia, fundador e gestor do blog, Dr. Octávio Sérgio que, além de bom homem, é excelente guitarrista)
AMNunes


Foto da actuação dos Pardalitos do Mondego no dia 11/07 no Quebra Costas.
Formação do Grupo:
Guitarra: Francisco Viana
Viola: José Reis (lado esquerdo da foto)
Viola: Arnaldo Tomás
Cantor: Paulo Cortesão
Reportagem enviada por Arnaldo Tomás.


Foto da actuação dos Pardalitos do Mondego no dia 11/07 no Quebra-Costas.
Formação do Grupo:
Guitarra: Francisco Viana
Viola: José Reis (lado esquerdo da foto)
Viola: Arnaldo Tomás
Cantores: Paulo Cortesão, Nuno Castelhano e Felisberto Queiroz.


"Fala o leitor" - Diário de Coimbra de hoje. Posted by Picasa

Memória de José Amaral


Hoje, dia 12 de Julho, faz 5 anos que nos deixou o Dr. José Maria Amaral (1919-2001). Após o seu corpo ter sido velado na Igreja da Misericórdia de Abrantes, onde se radicou em 1958, o Grupo "Saudades de Coimbra" que o Dr. Amaral tinha fundado no ínicio dos anos 80 em Abrantes, tocou alguns dos seus instrumentais, terminando com a "Balada de Coimbra". Foi sepultado no dia seguinte num jazigo emprestado no cemtério do Pego, uma aldeia do Concelho de Abrantes onde habitou e exerceu medicina antes de ir definitivamente para Abrantes. Mais tarde foi trasladado para um jazigo no Cemitério de Abrantes, onde actualmente repousa. Dos muitos instrumentais que nos legou, destaco as "Variações em Lá Maior".
Rui Lopes
*
Na foto em cima José Amaral toca na sua guitarra, observado por companheiros curiosos de ver como toca um grande guitarrista da velha guarda. De entre eles, Teotónio Xavier é talvez dos mais atentos, ou não fosse ele também um guitarrista já consagrado; está com a mão na cara, pensativo...

terça-feira, julho 11, 2006


Pardalitos do Mondego, hoje, no Quebra-Costas, Coimbra. Como não posso estar presente, peço a alguém de boa vontade que me mande a reportagem para o mail indicado no Blog. Desde já, obrigado. Posted by Picasa

segunda-feira, julho 10, 2006


Grupo Folclórico da UC (I)Posted by Picasa
O Grupo Folclórico da Universidade de Coimbra/Casa do Pessoal surgiu em 1985, tendo assinalado em Junho de 2006 os seus 21 anos de actividade regular.
Maioritariamente constituído por funcionários da UC e dirigido artisticamente nos anos iniciais pelo Prof. Doutor Nelson Correia Borges, o GFUC rapidamente grangeou enorme prestígio. O sucesso do GFUC ficou a dever-se nesses anos de arranque à persistência dos seus associados e a equipas de gestão consistentes que apostaram em linhas de actividade cultural muito sólidas.
Dentre elas, destacaríamos:
-a mais valia resultante da utilização dos rigorosos e exaustivos conhecimentos do Doutor Nelson Correia Borges, ontem como hoje a maior autoridade viva em matérias de folclore conimbricense;
-o acesso a fontes sonoras arquivísticas raras, provenientes do antigo Emissor Regional, arquivos particulares e do antigo Rancho das Tricanas de Coimbra;
-o derradeiro acesso a recolhas testemunhadas por idosas credíveis como a tricana Silvina Gata;
-a ruptura aberta e ostensiva em relação aos "ranchos Fnat", em termos de tocata e de figurino. Sob orientação de Nelson Borges, o GFUC não aderiu à onda massificadora dos acordeãos e tambores, tendo apostado na reconstituição das tocatas conimbricenses à base de cordofones. Foram os anos das violas toeiras, do cavaquinho, do bandolim, da rabeca, do violão e da guitarra de Coimbra. Escusado será dizer o quanto este tipo de tocata "ecológica" seduziu;
-total afastamento em relação aos grupos que até 1974 apresentavam "trajos domingueiros" idênticos, redundando em autênticas ficções daquilo que fora a diversidade e multiplicidade da vestiária popular. Enjeitando o "trajo-farda", ou de tipo "teatro de revista", o GFUC delimitou um espaço de credibilidade, tirando partindo da apresentação cronológica de trajos em termos de gestão dos seus espectáculos. Esta recusa era extensiva à negação radical de qualquer proximidade ao cliché turístico, cinematográfico e menu casa de fados que associava a parelha vestimentária tricana/estudante;
-reconstituições credíveis de antigas práticas culturais citadinas como as Fogueiras de São João, a Feira dos Lázaros, as serenatas populares e a visitação dos Presépios;
-redefinição correcta da historicamente recente Canção de Coimbra não como a "única e autêntica música de Coimbra", mas como uma das várias manifestações em que se desdobra e afirma a Música Tradicional de Coimbra;
O GFUC vinha ocupar um espaço vazio, não preenchido desde o lento esvaimento do velho Rancho das Tricanas de Coimbra. Mas não lhe retomou as linhas de rumo, sobretudo na rejeição da tocata à base de jazzes (que fizera época nas gestões do maestro César Magliano) e no fazer tábua-rasa de composições assinadas por membros do agrupamento.
O primeiro ciclo de actividade do GFUC resultou na gravação de uma excelente cassete onde figuram 13 temas recolhidos e reconstituídos com o rigor possível. Permito-me respigar, pela elevada qualidade dos desempenhos, os temas "As Camélias" e o "Estalado".
Entre 1988 e 1991 fui assíduo frequentador do GFUC, cujos demorados e penosos ensaios de canto, dicção, tocata e dança, acompanhei na Cave do Edífício das Químicas, no sótão do Colégio dos Grilos e na almejada sede, nos baixos do Hospital Velho.
Depois, a vida seguiu outros rumos. Eu afastei-me de Coimbra. O GFUC viveu momentos de instabilidade interna e reorganizou-se. Em 1998 gravou uma cassete e em 1999 o CD "Flores de Coimbra".
Para ouvir e com merecido aplauso: cassete "Coimbra dos Futricas e das Tricanas", Grupo Folclórico da UC da Casa do Pessoal, Porto, Rapsódia CR 885, ano de 1993
Lado 1: Jovens Sereias, Carinhosa, Vira de Coimbra, Farrapeira, Esta Calçadinha, Manuel tão Lindas Moças, Romance do Cego
Lado 2: Toutinegra, Folgadinho, As Camélias, Estalado, Com a Pena, Ao Menino Deus
Na referida gravação, a tocata é constituída por rabeca, guitarra de Coimbra, cavaquinho, bandolim e violão. Por razões que desconheço, à data do registo já não eram utilizadas as duas violas toeiras que inicialmente integravam a tocata. O grosso do reportório é vocalizado por coro misto (vozes masculinas e femininas), de acordo com a antiga tradição conimbricense. Em alguns espécimes há solos: masculino versus feminino no lundum Folgadinho, masculino e feminino no Romance do Cego e inteiramente feminino no Vira Valseado de Coimbra.
AMNunes


Disco de Flamínio de Almeida Posted by Picasa
Verso do livreto do cd dedicado à vida e obra artística do gaiteiro Flamínio de Almeida, do Casal da Misarela, Coimbra. Esta importante tarefa de recolha ao vivo, concretizada por Mário Correia, ocorreu no dia 8 de Janeiro de 2000. "Flamínio de Almeida. Gaiteiro do Casal da Misarela. Coimbra", é o CD Nº 6 da colecção SONS DA TERRA, STMC 0013, ano de 2000.
AMNunes


Gaiteiro Eduardo Carvalho Posted by Picasa
Ti Chico Gato, ou Eduardo Carvalho, nasceu em Ribeira de Frades, Coimbra, no ano de 1927. Decano dos gaiteiros de Coimbra, aparece fotografado jovem numa arruada da Queima das Fitas de Maio de 1957 (cf. Cristina Henriques, "Coimbra Vida Académica", Coimbra, CCQF, 1990, pág. 121). Bastante debilitado fisicamente foi alvo de uma importa recolha sonora em 2004 onde convergiram a editora Sons da Terra, a Junta de Freguesia de Ribeira de Frades e a Câmara Municipal de Coimbra. Eduardo Carvalho executa em gaita de foles tradicional da Região de Coimbra 12 temas, sendo o nº 12 a melodia do "Fado Hylario Moderno". O livreto do cd conta com um sólido e importante texto do recolector e estudioso Mário Correia.
Em 2004, Ti Chico Gato já não era o folião que bem conheci na 2ª metade da década de 1980. Não havia Queima da Fitas, Imposição de Insígnias estudantil ou Latada a que não fosse. Bem avinhado, calcorreava ruas, liceus e tascos. A gaita, a caixa e o bombo faziam dançar as sensibilidades mais hirtas. Na Queima da Fitas de Maio de 1990 percorremos um longo giro, com paragens nas portarias do Liceu José Falcão, Colégio de São Teotónio e Liceu Jaime Cortesão. Gaiteiro a foliar na portaria do liceu era sinónimo de ponto nas aulas.
Importante ofensiva de resgate patrimonial, a atenção votada a este humilde gaiteiro presta-se a revalorizar um instrumento musical ancestral que por deficiência de estudos se poderia confundir com as gaitas galegas e a exemplificar a variedade que em assenta a Música Tradicional de Coimbra.
Para ouvir mais: CD "Eduardo Carvalho. Gaiteiro Ti Chico Gato. Ribeira de Frades. Coimbra", Sons da Terra, Nº 15, STMC 0531, ano de 2004.
AMNunes

FADO DAS PRAIAS

Música: Reynaldo Augusto Álvares Pereira Leite da Silva Pinto Varella (1867-1940)
Letra: João de Deus Battaglia Ramos (1878-1953)
Incipit: Fui um dia até à praia
Origem: Lisboa
Data: 1903



Fui um dia até à praia,
Pra ver as ondas do mar;
Era uma noite formosa,
Toda cheia de luar.

As estrelas prateavam
O azul puro do Céu,
Bordando em linda cadeia
O fado que Deus me deu.

O mar soltava um gemido,
Tão longo, tão prolongado,
Que par’cia qu’rer contar-lhe
As penas do meu passado.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento por Reynaldo Varella (1904):
Dó# m, Fá m, 2ª Dó#, Dó# m
Dó# m, 2ª Dó#, 2ª Dó#, Dó# m
Fá# m, 2ª Dó#, 2ªDó#, Dó# m (bis)
*
Dó# m, 2ª Dó#, 2ª Dó#, Dó# m (bis)
Fá# m, 2ª Dó#, 2ª Dó#, Dó# m (bis)
*
Dó# m, 2ª Dó#, 2ª Dó#, Dó# m (bis)
Fá# m, 2ª Dó#, 2ª Dó#, Dó# m (bis)

Esquema do acompanhamento de António Brojo para a gravação José Mesquita (1983):
1ª ESTROFE:
1º dístico: si, mi 2ªsi, si; (1ª vez)
1º dístico: si, 2ªsi 2ªsi, si; (2ª vez)
2ª dístico: si, Lá, Sol, Fá# Fá#7ª, si;
2ª ESTROFE
1º dístico: si, 2ªsi 2ªsi, si;
2º dístico: mi, 2ªsi 2ªsi, si; (1ª vez)
2º dístico: si, Lá, Sol Fá# Fá#7ª, si; (2ª vez)

Informação complementar:
Serenata estrófica com melodia singela, própria para interpretações ligadas a momentos de improviso, em compasso quaternário (4/4) e tom de Dó Sustenido Menor (afinação de Coimbra). Originalmente este tema era cantado por Reynaldo Varella em Si Menor (afinação natural), com um acompanhamento de guitarra centrado em 1ª, 2ª e 3ª.
A letra que transcrevemos é a cantada por Reynaldo Varella no disco BEKA-GRAND-RECORD nº. 48019, de 78 rpm, por volta de 1904, sendo que o autor e cantor executa a guitarra de acompanhamento em afinação natural. O autor efectou uma 2ª gravação ca. 1905-1906 no 78 rpm Fidelio F3515, a que se seguiu um 3º registo por 1911 no 78 rpm Favre 1-45621. A versão adoptada para efeitos de transcrição é a do autor, Reynaldo Varela. Do “Fado das Praias” não conhecemos qualquer edição musical impressa.
Tema gravado por José Mesquita, com o título adulterado para “Vou Encher a Bilha e Trágo-a”, no LP “Fados e Baladas de Coimbra por antigos estudantes”, RODA SSRL 9000, ano de 1979, acompanhado por António Brojo/Jorge Gomes (gg) e Manuel Dourado/Aurélio dos Reis (vv). Neste disco, não se procede à identificação do autor da música, constando apenas que o arranjo é de Machado Soares (sic). A letra interpretada por Mesquita em nada se assemelha ao texto de João de Deus, pois a 1ª quadra “Vou encher a bilha e trágo-a” é de António Nobre, e a 2ª, “O Choupal anda coitado”, é de João Lebre e Lima e pertencia ao “Fado do Choupal” de António Menano. O referido registo surge remasterizado no CD “Fados e Baladas de Coimbra... do Choupal até à Lapa”, VIDISCO 11.80.1208, ano de 1992, faixa nº 4, com atribuição errada de autoria a “Dr. Fernando Machado Soares”. Trata-se, visivelmente, de um produto comercial, com erros grosseiros de autorias, omissão de instrumentistas e das fontes remasterizadas, amalgamando Mesquita ao lado de cantores profissionais de duvidoso recorte estético como Valdemar Vigário.
Espécime regravado em 1983 por José Mesquita, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Luis Filipe Roxo Ferreira (Album “Tempo(s) de Coimbra”, disco 1, editado em 1984); José Mesquita só canta (Sol menor) as duas primeiras quadras de João de Deus B. Ramos, identifica correctamente as autorias e mantém o arranjo de acompanhamento de 1979, idealizado por António Brojo. Registo disponível em compact disc: album “Tempo(s) de Coimbra”, disco 1, EMI 0777 7 99608 2 8, editado em 1992; reeditado em 2005; Col. “Um Século de Fado”/Ediclube, CD Nº 4/Coimbra, EMI 7243 5 20638 2 6, editado em 1999.
No 3º verso da 2ª copla, José Mesquita substitui “Bordando” por “Dobrando”. O autor da letra, João de Deus Filho, estudou Direito na UC entre 1896 e 1902, tendo deixado nome como sócio da TAUC, executante de guitarra, poeta sem confirmação futura e autor da melodia do celebrado “Fado João de Deus”. Docente e político, dedicou-se à instalação da rede de jardins infantis João de Deus.
Natural de Ponte de Lima, Reynaldo Varella nasceu em 1867, tendo falecido na cidade de Lisboa a 24 de Dezembro de 1940. Nas décadas de 1880-1890 viveu regularmente na cidade do Porto, onde se distinguiu como executante de Guitarra do Porto em afinação natural, compositor, serenateiro activo nas praias nortenhas e no casco histórico do Porto, casinos, cafés, termas e salões, professor de instrumentos de corda, autor de um método de guitarra e cantor. Entre 1900 e 1940 habitou em Lisboa.
Musicalmente ilustrado, Varella frequentava os meios culturais mundanos do seu tempo. Nos primeiros anos do século XX gravou dezenas de discos de 78 rpm onde, além de cantar e tocar guitarra, também executa peças instrumentais de Verdi e Bizet. Com ligações aos meios e repertório fadístico, Varella não pode ser rotulado peremptóriamente como fadista ou simples autor de fados. Na realidade, cultivou um reportório cantável e instrumentístico que também abarca o Fado (então em voga nos meios urbanos de Lisboa, Coimbra e Porto), as cançonetas de salão, as serenatas ligeiras, as canções populares, e peças instrumentais posicionadas na herança reportorial da Guitarra Inglesa praticada em Coimbra e no Porto (folclore, autores clássicos). O reportório musical impresso e discográfico de Varella conheceu enorme aceitação e reprodução em Coimbra. Estamos em presença de um artista eclético, tipicamente Belle Époque, que nos ajuda a compreender o que eram a guitarra em afinação natural e as cantorias de serenata no último quartel do século XIX. Augusto Hylario não estaria artisticamente muito distante de Varella. Ambos eram barítonos, embora Varella fosse menos expressivo. Quanto ao resto, o que em Hylario eram amadorísticas virtudes, em Varela foram trunfos profissionais.

Transcrição musical: Octávio Sérgio (2006)
Texto: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Agradecimentos: Alexandre Bateiras, Dr. Aurélio Reis Posted by Picasa

domingo, julho 09, 2006


Amândio Marques Posted by Picasa
Retrato do Dr. Amândio Ferreira Marques (1903-1987), advogado, guitarrista e compositor amador, exposto na sala nobre da Casa da Beira Alta (Porto, Rua de Santa Catarina).
Agradecimentos: Dra. Maria Fernanda Braga da Cruz, da AAEC no Porto e Presidente da Casa da Beira Alta
AMNunes


"O Fado do Público" Posted by Picasa
Em Maio de 2006 foi lançada a 2ª edição da colossal e aparatosa antologia fonográfica "O Fado do Público", remake de uma operação do jornal "Público" realizada em 2004 com textos de Rui Vieira Nery. Os dogmas, as lacunas e os erros são os mesmos.
Fonte: anúncio do jornal "Público" de 09 de Maio de 2006
AMNunes

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