sábado, abril 08, 2006


Capa dum Projecto da 3ª Edição do livro “Cantares de José Afonso”, por António Carrilho Rosado Marques.
Contém dez partituras de canções de José Afonso, com os respectivos acompanhamentos em guitarra clássica (viola). A apresentação é excelente. Os textos são fieis aos originais, assim como as melodias. Os acompanhamentos estão muito bem conseguidos.
É um bom instrumento de trabalho para quem se quiser debruçar a fundo na música de José Afonso. Ficamos à espera que António Carrilho se disponha a continuar este trabalho e nos venha a brindar com outros volumes de outras peças do mesmo autor. Todos lhe ficarão agradecidos.
Neste Blog, no dia 23 de Março de 2006, encontra-se uma das partituras – As Pombas, pertencente a este livro.

Segue-se um pequeno texto do autor, que serve de introdução às partituras:

Naquela Coimbra dos “anos 60”, em que as assumidas raízes alentejanas me valeram a alcunha de “Castiço”, eu era membro da Tuna e aí conheci o Rui Pato.
Chegado a Lisboa, para poder concluir um curso de engenharia, estudei guitarra clássica com Javier Hinojosa na Escola Duarte Costa, onde também fui professor.
Passados trinta anos, enquanto preparava os acompanhamentos para viola com a finalidade de participar numa sessão de homenagem a José Afonso, resolvi passar a escrito alguns dos seus cantares. Este trabalho, dedicado a todos os meus amigos, é fruto da grande admiração que tenho pelo Zeca.

A economia de sinais de expressão e, por vezes, a simplificação da escrita que utilizo, tornarão imprescindível a audição atenta das interpretações originais que, só elas, são capazes de revelar o vasto leque de matizes com que nos brindaram.

23 de Fevereiro de 1997

A. Carrilho R. Marques
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Serenata na Couraça Posted by Picasa
Pintura mural existente num bar inaugurado nos inícios da década de 1990, a meio da Couraça de Lisboa. Figuração descontraída, influenciada pelas animações infantis Warner Bros, mostra a serenata académica com um toque de realismo destituído de falsos moralismos.
AMNunes


O gaiteiro Posted by Picasa
Trecho extraído, com a devida vénia, de Nelson Correia Borges, "Coimbra e Região", Lisboa, Editoral Presença, 1987, pág. 50. Dois postais sobre gaiteiros da região de Coimbra, colocados recentemente neste blog, suscitaram assinalado interesse. O Eng. Henrique Oliveira, membro de uma associação de defesa da gaita-de-foles, com sede em Lisboa, tem-se dedicado a sinalizar e entrevistar gaiteiros beirões (http://www.gaitadefoles.net/). Para nossa surpresa, a gaita-de-foles da região de Coimbra apresenta especificidades que a distinguem de outros modelos existentes em Portugal. Informa também que alguns gaiteiros foram nos anos recentes alvo de recolhas sonoras já disponíveis em suportes fonográficos. Logo que nos seja possível, daremos notícia dessas importantes gravações.
AMNunes


Grupo Brojo/Portugal Posted by Picasa
Filmagens no Penedo da Saudade para o programa televisivo da RTP coordenado por José Mesquita: "Canção de Coimbra. Anos 80 (1989)". José Mesquita não foi captado pela objectiva, vendo-se António Portugal (g), Augusto Camacho (de pé), Aurélio Reis (v), António Brojo (g) e Luís Filipe (v). É bem evidente nestes cultores anteriores a 1974 a precupação em não ferir a sobriedade da Capa estudantil. Envergando vestimentas do quotidiano, gravatas, meias e calças combinam-se discretamente.
Foto: Augusto Camacho Vieira
AMNunes

sexta-feira, abril 07, 2006


Nemésio Posted by Picasa
Cartão de estudante da Faculdade de Direito da UC de Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva, autografado pelo Secretário Geral Manuel da Silva Gaio em 9 de Janeiro de 1923. Nos anos de Coimbra, Nemésio destacou-se como poeta, conferencista, dinamizador de publicações culturais e sócio do Orfeon Elias de Aguiar. Profissionalmente activo em Lisboa, Nemésio manteve sempre em Coimbra casa de férias e ao cemitério de Santo António dos Olivais foi repousar pelos idos de 21 de Fevereiro de 1978. De quando em vez ainda nos brinda com a sua infinita sabedoria em reposições na RTP-Memória.
Fonte: Carlos Santarém Andrade, "A envolvência coimbrã de Régio e Nemésio", Coimbra, Edição da CMC, 2001, pág. 69.
AMNunes


Canções d'Inquietude Posted by Picasa
Após apresentação ao público em finais de Novembro de 2005, ficou finalmente acessível (Março de 2006) aos consumidores de registos fonográficos da CC o cd "Canções d'Inquietude. Canto e Guitarra de Coimbra", Porto, Carambola, Lda., 2005, segunda amostragem dos projectos desenvolvidos por Jorge Cravo com Manuel Borralho/José Ferraz de Oliveira/Manuel Gouveia Ferreira. A formação persiste e solidifica linhas orientadoras enunciadas no cd "Folha a Folha" (1999). Ao todo são 17 composições, 3 instrumentais, 14 vocais. Jorge Cravo interpreta textos de sua própia autoria, de Gouveia Ferreira e Miguel Porto. Fazem a apresentação do disco Armando Luís de Carvalho Homem e José Manuel Beato.
Trabalho dedicado a Nuno Guimarães, Adriano Correia de Oliveira e Rui Pato, convoca e prolonga, sobretudo por via dos trabalhos de Manuel Gouveia Ferreira, uma certa herança estética da década de 1960. Peças há onde nos conseguimos esquecer de Jorge Cravo, acudindo-nos à outiva um travo de tristíssima solidão que por vezes se desprendia da voz de Adriano.
Jorge Cravo nunca se confundiu com certa vulgaridade artística reinante. Decorrida meia década, volta a surpreender os seus admiradores e o público da CC com um projecto artístico que não sendo de trauteio imediato, pede lenta assimilação.
Uma palavra de apreço ao grupo, especialmente ao Jorge Cravo, cujo amadurecimento tem ludibriado a fossilização.
AMNunes


Sanches da Gama Posted by Picasa
Retrato de Eugénio de Albuquerque Sanches da Gama (1864-1933), diplomado pela UC, poeta com quadras cantadas pelos serenateiros, professor de História no Liceu de Coimbra. Bom garfo, figura nédia, era filho do lente de Direito do mesmo nome, o mais notável comilão e obeso do seu tempo que, além de apetrechar as salgadeiras e a adega com conhecidos zelos, também escreveu a letra do Hino Académico.
AMNunes


Serenata por Danton Posted by Picasa
Idealização de uma serenata académica pelo estudante de Direito, sócio e dirigente da TAUC, Danton Paixão Nifo (Presidente em 1937 e 1938), com data de 1937. A silhueta do cantor é acentuadamente efeminada. Documento editado em Octaviano Sá, "Nos Domínios de Minerva", Coimbra, Arménio Amado Editor, 1939, pág. 83.
AMNunes


"Romeiros" de 1899 Posted by Picasa
Grupo de estudantes que nos festejos do Centenário da Sebenta se disfarçou com trajos de romeiros e romeiras que anualmente vinham aos arraiais de Santo António dos Olivais e Rainha Santa Isabel. Descontando as bigodaças dos travestis, os trajos masculinos e femininos, e os instrumentos musicais exibidos, são bem reais. Destacam-se, em primeiro plano, um violão de pá de cravelhas e um zé-pereira. Faltam outros instrumentos frequentemente tocados pelos romeiros como a gaita-de-foles e a viola de arame.
AMNunes

quinta-feira, abril 06, 2006


Coimbra em 1840 Posted by Picasa
Vista de Coimbra publicada no "Universo Pitoresco", Volume I, 1839-1840. Visíveis a Ponte do Ó, demolida em 1875, o Mondego com barcas serranas de velas enfunadas, o Arco da Portagem, a Ínsua dos Bentos por urbanizar (actual Parque Manuel Braga), a Estrada da Beira com algumas casas no bordo norte, a Couraça com o extenso lanço de muralhas ainda coroadas de ameias, apontamentos da Sé Nova, Universidade, Laboratório Astronómico, Jardim Botânico e Seminário.
Esta gravura serviu de motivo de capa ao estojo cartonado da antologia sonora coordenada por António Brojo/António Portugal, "Tempo(s) de Coimbra. Quatro Décadas...", editado em vinil no ano de 1984 e reeditado em 1990.
AMNunes


Camponesa ("dos arredores") de Coimbra Posted by Picasa
Aguarela de Manuel de Macedo (1846-1915), assinada e datada de 1884, realizada sobre fotografia colhida nas margens do Mondego. Este documento foi posteriormente editado no "Álbum de Costumes Portugueses", Lisboa, David Corazzi, 1888, com texto de Pinheiro Chagas. Chagas identifica a mulher retratada com a já então muito celebrada tricana citadina, embora o título identificativo da ilustração refira expressamente "costume dos arredores de Coimbra". Não há coincidência entre o título da gravura e o texto. No contexto cultural citadino, as camponesas dos arredores de Coimbra não eram propriamente consideradas musas inspiradoras. Elas eram afinal mulheres de fora que a pé, com carroças e burricos, aninhadas nas barcas serranas, aguilhoando os bois, vinham apregoar leite, peixe, louças, ou distribuir trouxas de roupa tirada da barrela e molhos de carqueja. Lá e cá atroavam as ruas e recantos com pregões cantados de sardinhas, arrufadas e laranjas da China.
Não raro os estudantes insultavam os camponeses e trabalhadores dos arredores, chamando-lhes "vacões", "broeiros" e "mijadas". Aos olhos da fidalguia e burguesia locais, estas rústicas dos arredores não podiam de modo algum envergar este tipo de vestuário caso fossem contratadas como criadas de servir. Aliás, por aquilo que apurámos, as damas citadinas davam "lições" de português e de "boas maneiras" às criadas de servir oriundas de fora. Do ponto do vista dos próprios camponeses/camponesas, os trajos de trabalho eram muitas vezes percepcionados como sinónimo de pobreza, de inferioridade sócio-cultural e de afastamento dos favores da cidadania activa.
Por alguma razão, no período do Estado Novo, se insistiu e persistiu na inculcação institucional (FNAT) de uma visão cor-de-rosa dos camponeses "fardados" com trajos domingueiros. De uma penada, os trajos domingueiros permitiam ocultar o pé descalço, o remendado, o mendigo cantador, a ausência de roupas interiores, o esburacado e o desbotado.
Na época a que se reporta a ilustração, eram "arredores" o arrabalde (lugares circunvizinhos como Celas e Santo António dos Olivais), freguesias do Concelho de Coimbra e povoados dos municípios circundantes. Poderá tratar-se de uma mulher do "campo" (lados de Cernache), ou com mais probabilidade de Poiares (ver cestos e louças).
A camponesa apresenta como principal elemento identificativo o chapéu de feltro com pompons à moda da Beira Litoral, envergado com especial incidência na região de Coimbra e povoados do Baixo Mondego, mas com prolongamentos até Ovar e Murtosa. Vestuário de cores vivas (saia, lenço, blusa), com arcaísmos na decoração do chapéu e blusa. Andar calçado seria um luxo nos meios rurais, pois muitos dos homens e mulheres que laboravam nos arredores de Coimbra e nas margens do Mondego andavam descalços. No entanto, as gentes dos arredores calçavam-se para vir à cidade. O xaile, cuja moda se impunha na cidade, ainda não ocorre nesta vestimenta. Permanece a capoteira castanha, com romeira debruada, traçada "à tricana". Guarda-chuva e rodilha são elementos auxiliares do percurso campo/cidade, bem como a indispensável cesta com louças pretas à moda de Olho Marinho (Poiares).
Analisando esta gravura, o bem documentado Octaviano de Sá argumenta que o trajo proposto para a mulher dos arrabaldes seja aceite com tendo sido usado na cidade (Cf. Octaviano de Sá, "a Tricana no folclore coimbrão", Coimbra, Edição da CMT, 1942, págs. 4-5). A interpretação formulada por Octaviano de Sá tem todo o sentido, não para a década de 1880, mas reportada aos decénios anteriores. Esse trajo ocorre, sem variantes dignas de registo, no heterogéneo grupo que Georg Vivian desenhou em 1839 na Fonte de Santana ("Scenery of Portugal and Spain"). O modelo desenhado não nos parece muito distinto (há pormenores distintivos mas não radical diferença) do trajo da Varina da Murtosa presente no mesmo álbum Corazzi, nem do trajo festivo que algumas minhotas da região de Braga vestiam no tempo dos Cabrais (cf. Albert Racinet, "Histoire du Costume", Paris, 1888, pág. 299, figura 3, obra reimpressa em 1991).
AMNunes

Canção de Coimbra / Reflexões ( V )


Legenda da composição fotográfica:

Memória / Momentos :“Canção de Coimbra - Anos 80” (1989). Para além de Antigos Estudantes (ver último artigo ), participaram nesta série televisiva quatro “Grupos de Fado”, cujos elementos eram estudantes na década de 80 do sec. XX e tiveram papel de relevo no “renascimento do fado de Coimbra”, após esse acontecimento decisivo que foi a serenata na Sé Velha, em Maio de 1978…Instantâneos das Gravações dos Programas com esses Grupos de Fados : (A) “Grupo de Fados e guitarras de Coimbra”, c/João Moura e José M. Santos (inst.) e Tó Nogueira, Vítor Silva e L. Catario (cantores) (em estúdio); (B) “Grupo Académico de Fados e Canções”, c/ ”Tó Zé” Moreira, H. Ferrão, Luís M. Martins, José C. Ribeiro e Manuel A. P. Fernandes (inst.) e Jorge Cravo (cantor) (Coimbra/Choupal); (C) “Grupo Praxis Nova” c/ Paulo Soares (“JoJó”), José Rabaça, Luís C. Santos e Carlos A. S. Costa (inst.) e Luís Alcoforado (cantor) ( Coimbra /Santa Clara ); (D) “Grupo Toada Coimbrã” c/António J. Vicente, João P. P. Sousa, João C. Oliveira e Jorge M. M. Marques (inst.) e Rui P. Lucas (cantor) (Coimbra/Páteo das Escolas,U.C.). Posted by Picasa

José Mesquita*

Referíamo-nos, no último artigo, à variedade de expressão e temática que tem assumido o canto coimbrão e a alguns dos maiores responsáveis por essa riqueza …
A propósito deste tema e dos seus protagonistas, nomeadamente José Afonso e Luiz Goes, comentávamos no Semanário “O Jornal ”(1983) , o seguinte ( 3) : «Há qualquer coisa de comum em toda esta música ( trovas, baladas, canções…) : são frutos diferentes nascidos de enxertos na mesma cepa – «a raiz coimbrã» – difícil de caracterizar mas por isso mesmo, inigualável. É que cantar autenticamente Coimbra é, antes do mais, um certo modo de estar na canção traduzido por uma elevada sensibilidade e uma maneira de entoar e dizer, únicas no panorama da música popular portuguesa. Daí a expressão “sabor Coimbrão”… Sente-se que assim é, não porque essas composições obedeçam a regras precisas de construção musical e como tal reconhecidas, mas antes por um todo indefinível, intuitivo que corporiza aquele tal modo de estar na canção» ( Entrevista de apresentação do Lp “Coimbra dos Poetas”, nosso primeiro contributo para o reportório da Canção de Coimbra…).
Neste contexto, pensamos ser pertinente referir aqui também as opiniões, nesta matéria, de dois cultores bem conhecidos do canto e da guitarra de Coimbra, respectivamente Jorge Cravo2 e Jorge Gomes3 que, anos mais tarde (quase duas décadas depois…) as publicitaram do seguinte modo e, passamos a citar (excertos) : “Penso que é imperativo recriar esta canção… no sentido de se formularem novas pistas de musicalidade, acompanhamentos e mensagens para a divulgarmos … ao lado de produtos musicais agressivos, sem que ela perca a sua autenticidade regional e local, o que implica que daí resultem sempre sonoridades matricialmente identificáveis” ( Jorge Cravo ) (8) ou “A Canção de Coimbra é mais uma maneira própria de cantar, regional, do que um modelo musical”. E mais adiante, o mesmo articulista referindo-se à adaptação de canções populares por E. Bettencourt:…”o que está subjacente no fado de Coimbra é mais a maneira de cantar, de interpretar de dizer as coisas, do que propriamente a musicalidade e a letra da própria peça” (Jorge Gomes) (9).
Neste momento e antes do mais, gostaríamos de reafirmar que apoiamos entusiasticamente, em teoria e na prática, o “movimento de renovação” do repertório do “Fado de Coimbra”, nele incluindo recriação, inovação, pesquisa de «novas pistas de musicalidade» (8) etc, etc.
Contudo, estamos convictos de que estas iniciativas, a todos os títulos louváveis, não beneficiam muito a “Canção de Coimbra “, bem pelo contrário, quando são objecto de excessiva ”eruditização”, seja na expressão vocal, seja na composição… É óbvio que o saber nunca fez mal a ninguém e isso é verdade para toda e qualquer área do conhecimento, ciências musicais incluídas. As técnicas de canto e/ou execução instrumental aprendem-se e aí reside a importância e o papel das Escolas. Só por mera ignorância ou mesmo estupidez se pode negar tal evidência…
Contudo, a “Canção de Coimbra” é um canto com fortes raízes tradicionais e/ou populares, singelo por natureza e, muitas vezes, expressão de um “romantismo” muito peculiar e intemporal. Assim sendo, em nossa opinião, um tipo de canção com estas características não beneficia com a aplicação rígida das normas exigidas no canto lírico ou mesmo no canto coral e não «casa», de todo, com dissonâncias musicais inesperadas, ou composições e harmonias complexas, tão caras, procuradas e, por vezes apreciadas, na música erudita!... Que nos perdoem os músicos, por cuja profissão e saber temos o maior respeito, mas é esta a nossa convicção… depois de tudo o que nos foi dado ver e ouvir ao longo de “50 anos de fado”...
Saliente-se que nada disto é contraditório do eventual recurso ao fado/canção/guitarra de Coimbra como fonte de inspiração para arranjos ou composições, corais ou instrumentais, de música erudita, como vem acontecendo ultimamente, com assinalável êxito. Consideramos esta prática perfeitamente legítima, “arejada” e muito meritória, na senda, aliás, dos grandes Compositores que, como se pode constatar na História da Música, escreveram obras relevantes e de impacto mundial inspirando-se em temas tradicionais.
Pensamos, porém, que, quando tal acontece, a música tradicional, e no caso vertente a Canção de Coimbra (por vezes “irreconhecível” ! …), passa a outra categoria musical (erudita) que, não sendo melhor nem pior, é necessariamente diferente… e, como tal, deve ser apreciada. Com este “tratamento”, a música, sem dúvida, ganha em erudição, mas a Canção de Coimbra «sensu strictus» , enquanto tal, perde certamente emoção e identidade… Tudo estará bem se, como diz o Povo, estiver “cada coisa no seu lugar”… Por outras palavras : quando o objectivo fôr ouvir e apreciar “fado/Canção de Coimbra”, no seu “sabor genuíno”, pensamos que, em momento ou circunstância alguma, a “versão erudita” poderá ou deverá substituir a “versão natural”, na sua singeleza e autenticidade… Em jeito de “testemunhos “não formais que, em nossa opinião, abonam esta tese, transcrevemos, com a devida vénia, excertos de alguns textos vindos a público recentemente nesta matéria. Passamos a citar :…”O fado de Coimbra é uma forma de canto de características populares, de uma população citadina, seja ela académica ou não. Daí que os chamados técnicos de música coral, ao darem formação clássica a um cantor de música popular, saem aquelas asneiras que nós vemos. Deixa de ser um canto popular para ser um canto a puxar para o clássico e fica ridículo e desenquadrado da realidade”… ( Jorge Gomes ) ( 9 ) .…”A composição musical ( do fado de Coimbra ), tem quase sempre a doce simplicidade decorrente dos seus Autores-tantas vezes ignotos- não saberem música . Os talentos musicais, sem muletas, figuram, não raro, entre os mais criativos e originais “… ( Almeida Santos ) ( 10 ) .…”Faço música como quem faz um par de sapatos, isto é, tento alinhar sons e torná-los coerentes entre si, como quem faz um utensílio”… ( José Afonso ) ( 11 ) .
*
Estamos chegados ao ponto fulcral de todas estas reflexões :
*
Independentemente da “velha e massacrada” polémica das origens do “Fado/Canção de Coimbra”!....Independentemente de caracterizações técnicas, mais ou menos complicadas !..., perguntará o cidadão comum ( autóctone ou estrangeiro) ?!
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Como caracterizar e/ou identificar este género musical que é a Canção de Coimbra?!
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Tal como há vinte anos atrás ( 3 ), estamos cada vez mais convictos de que “cantar Coimbra” é tão somente um “modo de estar na canção”, um “modo de cantar e dizer”, único e inconfundível, que constitui a matriz, a “raiz coimbrã”… A “História do Fado de Coimbra” (e estamos a falar da ”História completa”, sem omissões, sejam elas involuntárias ou intencionais…) mostra, à saciedade, que nesta raiz pode ser enxertada uma diversidade de formas, tanto na vertente musical (fados tradicionais, trovas, baladas, canções…), como na vertente poético-literária (quadras, quintilhas, sextilhas, sonetos, etc.).
A dificuldade está na identificação desta raiz, desta matriz. Muito se fala dela mas ninguém a definiu ou caracterizou objectivamente … e ainda bem!!... E dizemos ainda bem, pois, como acima referimos, essa matriz constitui um todo indefinível, com muito de intuitivo, no qual as várias vertentes de uma canção (sejam elas, a vertente melódica, poética ou interpretativa), se conjugam para dar um produto final que, podendo ser muito diferente, acabará por exibir, invariavelmente, o tal “sabor coimbrão” …E continuando nesta linguagem metafórica de cariz “gastronómico”, a “Canção de Coimbra” é, por assim dizer, um manjar tipicamente coimbrão, mas sem uma receita rígida ou predefinida…
A arte, o segredo do “cozinheiro” (neste caso, do cantor ou compositor) está em saber “temperar”, isto é, misturar sabiamente os “ingredientes” de modo a não adulterar o “sabor” genuíno , autêntico ! Mas, um pouco ao invés dos livros de culinária, nesta matéria não nos parece útil ou sequer saudável, bem pelo contrário, aplaudir ou incentivar o eventual aparecimento de “códigos de conduta” (passe a expressão),”manuais de instruções” ou quaisquer outros normativos tendentes a cercear, orientar ou modelar a criatividade… A ortodoxia, como se sabe, é o maior inimigo de toda e qualquer criação artística…
Isto, obviamente, não significa que nos abstenhamos de referir alguns dos “ingredientes” que, em nossa opinião, enformam o que consideramos ser a “matriz coimbrã “…
Mas disso nos ocuparemos no próximo e último texto…
* Cultor da Canção de Coimbra ( cantor e compositor ).
[2] Cantor/compositor fortemente personalizado (pesem embora as notórias influências de Luiz Goes…) e de citação obrigatória quando se fala de renovação de repertório na “ Canção de Coimbra” ( Anos 80 ).
[3] Companheiro de “lides fadísticas” na década de 70 e hoje figura incontornável na pedagogia da guitarra de Coimbra.

Bibliografia

(1) «In”História do Fado de Coimbra” ( DVD ) estem LOSANGO 2004.
(2) « Diário de Coimbra, 7/6/1999
(3) « Semanário “O Jornal “ ( Supl. Educação ), 12/1983
(4) « Semanário “O Jornal”,8/3/1985(5) « Expresso ( Única ),nº 1703, 18/6/2005
(6) « Separ./Comissão Municipal de Turismo ( 1981)
(7) «”Diário As Beiras”( 21/9/05 )
(8) «”Diário As Beiras” ( 17/04/2001 )
(9) «”Jornal de Coimbra” ( 21/05/1997
(10) «”O Fado do Público,nº7,Fados e Baladas de Coimbra”, Edições de Arte, S.A.
(11) «”Cadernos de Reportagem nº 2, Edições Relógio d’Água


Homenagem a Gilberto Grácio no Café Santa Cruz, ontem. Encerramento do Mês do Fado. Jorge Gomes conversa com Gilberto Grácio e sua esposa, antes do começo da homenagem. Posted by Picasa


Homenagem a Gilberto Grácio no Café Santa Cruz, ontem. Encerramento do Mês do Fado. Conversa amena depois da homenagem. Gilberto Grácio com a esposa, Jorge Gomes, Manuel Coroa e ... Posted by Picasa


Homenagem a Gilberto Grácio no Café Santa Cruz, ontem. Encerramento do Mês do Fado. O homenageado, com alguns dos participantes, no final da homenagem. Posted by Picasa


Homenagem a Gilberto Grácio no Café Santa Cruz, ontem. Encerramento do Mês do Fado. Nuno Dias na guitarra e Fernando Lima na viola, abriram a sessão de guitarradas, tocando Despertar e Variações sob uma dança popular, de Carlos Paredes e Balada da Oliveira de Pedro Caldeira Cabral. Posted by Picasa


Homenagem a Gilberto Grácio no Café Santa Cruz, ontem. Encerramento do Mês do Fado. Henrique Fraga na guitarra e .... tocaram Rapsódia nº dois e Variações em Lá menor de Artur Paredes e Divertimento de Carlos Paredes. Posted by Picasa


Homenagem a Gilberto Grácio no Café Santa Cruz, ontem. Encerramento do Mês do Fado. Agradeço que alguém me forneça o nome dos intervenientes e o que tocaram. Posted by Picasa


Homenagem a Gilberto Grácio no Café Santa Cruz, ontem. Encerramento do Mês do Fado. Agradeço que alguém me forneça o nome dos intervenientes e o que tocaram. Posted by Picasa


Homenagem a Gilberto Grácio no Café Santa Cruz, ontem. Encerramento do Mês do Fado. Agradeço que alguém me forneça o nome dos intervenientes e o que tocaram. Posted by Picasa


Homenagem a Gilberto Grácio no Café Santa Cruz, ontem. Encerramento do Mês do Fado. João Monteiro e Pedro Cunha tocaram Tempo de Coimbra de Jorge Tuna, Sede e morte e Desenho de uma melodia, de Carlos Paredes. Posted by Picasa


Homenagem a Gilberto Grácio no Café Santa Cruz, ontem. Encerramento do Mês do Fado. Grupo Verdes Anos, com Miguel Drago, Luís Barroso e Manuel João Vaz. Miguel Drago tocou Marcha em Fá e Variações em Ré maior (versão não editada em disco) de Artur Paredes e Luís Barroso, Variações em Ré menor de Gonçalo Paredes. Posted by Picasa


Homenagem a Gilberto Grácio no Café Santa Cruz, ontem. Encerramento do Mês do Fado. Manuel Coroa, filho e pai, nas guitarras. Jorge Gomes na viola. Foi o último grupo a intervir. Tocaram António Marinheiro de Carlos Paredes, Não ames, de José Eliseu, assim como a Balada de Coimbra. Tocaram ainda Variações em Lá menor de Artur Paredes, uma versão não editada em disco. Posted by Picasa


Homenagem a Gilberto Grácio no Café Santa Cruz, ontem. Encerramento do Mês do Fado. Um aspecto da assistência, onde se pode ver o Vereador da Cultura, Mário Nunes. Posted by Picasa

quarta-feira, abril 05, 2006

As Grandes Manobras

No meu ano de caloiro coimbrão, das peripécias praxísticas a que fui submetido, sobressai - pela envergadura do número dos envolvidos, e pelo impacto na cidade - a minha participação na prática da praxe de repúblicos, por alturas das Latadas.
Fui mobilizado - para o bom e para o mau - por um elemento da "Real República Baco", cujo hino ainda recordo, tantas vezes o entoei/entoámos, e tão fundo ficou gravado na minha memória! Passo a reproduzir a letra (com música de um Italiano que dedicou uma cançoneta ao Porto, salvo erro o Marino Marini!):
Afonso Henriques
dizia a sua mãe,
na República Baco
é que se bebe bem!
Muito obrigado Porto,
ciao Porto,
muito obrigado!
Relembro ainda uma série de detalhes dessa jornada imorredoira: - à chegada, ao princípio da tarde, fui dirigido, com outros caloiros, para um quarto de um doutor, e à vez, deitados numa das camas, fomos obrigados a embocar um funil por onde era despejada uma apreciável quantidade de tinto! Descarga esta que foi suficiente para nos pôr em alto astral... preparando assim os ânimos para as "Grandes Manobras" que estavam programadas! Explico: na época era muito famoso um filme francês ( com o Gérard Philip) que tinha exactamente este título -"As grandes manobras". O filme foi pois aproveitado para dar o mote e substância às manobras da Baco! Então, albardados como era costume, de casacos às avessas, com estranhos e cómicos barretes e caras mascaradas de carvão; de vassouras ou cabos delas, nas mãos, e pedaços de tábuas de caixotes de sabão a imitar espingardame, fomos para a Praça da República, onde encenámos (já um pouco a cambalear...) uma ardorosa e fragorosa batalha, com tiros simulados à rapazes: - "Pá, pá, estás morto!". Havia gritos, esgares, correrias, sangue derramado (tinto...), ordens e contra-ordens! Uma barafunda napoleónica, acolitada pelas gargalhadas gerais de uns e outros!
Claro que não faltavam os cavalos de papelão, os 'cruzes vermelhas' com os palhinhas respectivos, para aliviar a sede e o sofrimento das hostes em confronto!!! Enfim, uma delícia de garotice, que divertiu a malta e a futricada, com a inesperada maluqueira que livremente presenciava! Tudo sob as ordens de uma equipa competentíssima de 'oficiais', que íam distribuindo a soldadesca, de modo a acabar com o IN...
Havia, evidentemente, a crítica ao regime ditatorial da Salazaresca matilha: tudo isto era feito para acabar com o jugo do general Antonini, que era representado à...Botas. Mas, o certo é que se não registou nenhuma intervenção policial ou pidesca... E no final das movimentações, os exércitos recolheram às instalações da RR Baco, onde terminou o que se tinha começado bem cedo: e a celebração acabou numa bebedeira generalizada, que deu muito que rir e...vomitar!
Do Blog de José Paracana (artenosatos).


Gilberto Grácio no Café Santa Cruz. Diário de Coimbra de hoje. Posted by Picasa

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