sexta-feira, setembro 01, 2006

ESTÓRIAS À LENTE (4)

XII.

É relativamente bem conhecido o contraste que há, no tratamento que se dá aos lentes, de Coimbra para os restantes meios universitários: do tradicional «Sr. Doutor» para o (por vezes algo pesporrencial) «Sr. Professor». Razões históricas explicam o facto e foram esplêndidamente sintetizadas em 1951 por um lente de Medicina Legal e antigo Reitor da UC, o Doutor Fernando de Almeida Ribeiro (1885-1956) [i].
Ora no início dos anos 60 apresentou-se a prestar oral de Finanças – disciplina do 3.º ano de Direito, regida em tempos por Salazar e a cargo, dos anos 30 aos anos 70, do Doutor José Joaquim Teixeira Ribeiro (1908-?) – um aluno que vinha transferido da FD/UL. O Doutor Teixeira Ribeiro costumava começar por dar a seguinte indicação:

- Abra lá então o canhenho [ii] na página tal.

O aluno não percebeu a página e interrogou:

- Perdão, qual é a página, Sr. Professor ?

Reacção imediata de Teixeira Ribeiro:

- Ó senhor, ó senhor, ó senhor ! Aqui não há professores, aqui somos todos doutores: sou eu, é o Sr. Conselheiro [iii] e até o Sr. é doutor quando for engraxar os sapatos e disser «Bom dia» ao engraxador !...

[i] No texto prefacial ao seu volume Doutoramentos em Coimbra: impugnação de cinco teses, Coimbra, Por Ordem da Universidade, 1951.
[ii] Presumo que se trataria do «Orçamento de Estado» para o ano em curso.
[iii] O Juiz que presidia ao júri.

Armando Luís de Carvalho HOMEM

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