Levantamento da Alta de Coimbra efectuado em finais do século XVIII, na sequência da Reforma Pombalina de 1772. Ocorre em Pedro Dias, "Coimbra Arte e História", Porto, Paisagem Editora, 1983, p. 15, e no tomo das actas "Alta de Coimbra. História. Arte. Tradição. 1º Encontro Sobre a Alta de Coimbra, Coimbra, 23, 24, 25 e 28 de Outubro de 1987", Coimbra, GAAC, 1988, p. 93.
A verde claro assinalámos a "universidade velha", configurada na acrópole conimbricense pelo Paço Real das Escolas, Torre, Via Latina, Pátio das Escolas, Gerais, Real Capela de S. Miguel, Livraria (Biblioteca Joanina) e Escadas de Minerva. No Pátio das Escolas não está marcado o rectângulo do Observatório Astronómico, dado que numa primeira fase os arquitectos pombalinos tiveram em mente construí-lo sobre os alicerces do Castelo (daí a sua figuração a tracejado vermelho entre o Colégio dos Militares e o Colégio de S. Jerónimo).
No seguimento dos aposentos do Reitor, uma vez passada a Porta Férrea, erguia-se o Colégio de São Pedro (verde escuro). Este antigo colégio serviu de Conselho Superior de Instrução Pública (1845), aposentadoria da Casa Real (1855-1910), albergou precariamente a primitiva Faculdade de Letras, serviços anexos ao Laboratório Astronómico e a Secretaria Geral. Profundamente restaurado no Estado Novo, constitui uma extensão da Reitoria e da Faculdade de Direito.
Descendo da Rua de Entre-Colégios para a Rua da Trindade, vislumbrava-se o Colégio da Trindade (amarelo escuro), em cuja planta aparecem marcadas a igreja e o pátio-jardim mas não o pequeno claustro. Na igreja e claustro do Colégio da Trindade funcionou no século XIX o Tribunal Judicial de Coimbra (1835-1881). Instalado o Tribunal nos Paços do Concelho, a mesma igreja acolheu a AAC após a demolição da respectiva sede no ano de 1888, o ginásio académico e a marcenaria "Pereiras". Nesse igreja-salão viveu a Academia de Coimbra as turbulentas Assembleias Magnas do Ultimato Britânico e da Revolta de 31 de Janeiro, a tal ponto que o governo mandou "encerrar" a AAC. No plano de obras da Cidade Universitária o edifício esteve pensado como Residência Universitária Feminina, e posteriormente como Residência Masculina. O projecto ficaria abandonado e nos finais da década de 1980 a igreja desabou aparatosamente sobre a calçada da Couraça. Sem protecções nem vigilância, os azulejos e as cantarias esculpidas anoiteceram mas não amanheceram... O edifício está a vias de ser reconvertido na sede do Tribunal Judicial Universitário Europeu.
Continuando a descer a antiga Rua dos Grilos, na direcção dos actuais Serviços de Acção Social (casa do Doutor Guilherme Moreira) e Secretaria Geral, do lado oposto às Escadas de Minerva via-se o modesto Colégio de Santo António da Pedreira (azul claro), com a sua capela avançada, e novamente sem marcação do claustrim. Continua afecto à Casa de Infância Elysio de Moura, instituição duradouramente associada à filantropia estudantil.
Um pouco abaixo ficava o Colégio de Santa Rita, ou dos Padres Grilos, ainda hoje famoso por ali terem habitado Oliveira Salazar e o Cardeal Cerejeira. Chegou a ser pensado para Residência Universitária Feminina no plano de obras do Estado Novo. Na década de 1950 e anos iniciais de 60 (1949-1963), foi este colégio sede da Associação Académica e palco privilegiado de acontecimentos como a institucionalização do Museu Académico (21/05/1951), a Segunda Tomada da Bastilha (04/04/1954), fundação do CELUC (1954), fundação do CITAC (1956), fundação do Coro Misto (1955-56), a Contestação ao Decreto-Lei Nº 40.900, de 12 de Dezembro de 1956 (controlo da autonomia das associações estudantis), o apoio à Campanha de Humberto Delgado (31/05/1958), o triunfo da lista da oposição associativa liderada por Carlos Candal (31/10/1960), e a Crise Académica de 1962. Profundamente restaurado, serve de sede à Secretaria Geral da UC.
Voltando à Porta Férrea e lançando vistas à Rua Larga, aparece de imediato o Colégio de São Paulo-o-Apóstolo onde em 1838 se instalou Academia Dramática (vermelho) e o Teatro Académico. No interior do edifício, muito arruinado pelo Terramoto de 1755, existia um claustro de orientação rectangular, não desenhado na planta, onde se construiu em 1838-1839 o Teatro Académico. As confrontações estão bem demarcadas, identificando-se a fachada principal com a Rua Larga, e as restantes com a Rua de São Pedro, Rua das Parreiras (traseiras) e Rua de Entre-Colégios. Demolido em 1888, este edifício acolheu o Instituto de Coimbra, o Clube Académico (1861-1887), a Orquestra e Conservatório Musical do Teatro Académico e a jovem Associação Académica de Coimbra (1887).
A demolição do edifício originou um vasto terreiro onde por muitos anos se fizeram Fogueiras do S. João. No mesmo espaço seria edificada a primeira Faculdade de Letras (1913-1929), posteriormente transformada em Biblioteca Geral (1956). O quarteirão situado entre a Rua das Parreiras e o Colégio da Trindade seria aproveitado para a construção do Arquivo da UC (1948). Na Rua de Entre-Colégios, entre as traseiras da antiga Faculdade de Letras (Biblioteca Geral) e o Arquivo, existe um portão que dá serventia a um pequeno pátio. Este pátio corresponde ao troço da antiga Rua das Parreiras.
No tocante ao Colégio de São Paulo-o-Apóstolo, de tão ilustre e fugaz memória, importaria trazer à luz do dia a crónica da construção do Teatro Académico, o espólio do Conservatório Musical (identificado e em processo de estudo pelo Prof. Flávio Pinho) e o quotidiano do Clube Académico. Para aguçar um pouco o apetite aos amantes da pesquisa, a AAC foi uma agremiação estudantil inteiramente fundada de novo em 1887 pelos republicanos António Luís Gomes/Guilherme Moreira? Resultou de simples revisão dos estatutos da velha Academia Dramática conforme se escreveu e aceitou acriticamente desde 1887? Para além do choque ideológico entre o pendor pró-monárquico do Clube Académico e as tendências pró-republicanas da Associação Académica, que diferenças de fundo se poderão assinalar nessa 2ª metade do século XIX entre as duas colectividades estudanto-juvenis?
Quase a meio da Rua Larga pode identificar-se o Colégio de São Boaventura, em castanho escuro, onde se tornou necessário delimitar o claustro. Este edifício funcionou como escola primária, Prisão Académica (1855...) e Instituto de Antropologia (desde 1911). Seria demolido em 1949 para dar lugar ao projecto da nova Faculdade de Medicina. O mesmo aconteceria em relação ao Colégio dos Lóios (marcado a preto), gigantesco edifício dotado de claustro, que se espraiava entre a Rua Larga, a Rua dos Lóios e o Largo da Feira dos Estudantes (fachada principal). Até à respectiva demolição serviu de sede à Junta de Província da Beira Litoral, Governo Civil (1843-1943), Direcção de Finanças, Posto da PSP, Correios, Inspecção Escolar e Bombeiros da Alta. Na falta de melhor espaço, a TAUC esteve sedeada neste colégio pelo ano de 1912. Sucessivamente pensado para nova Faculdade de Letras, Departamento de Física e Química, Governo Civil, sofreria um violento incêndio em 17/11/1943. Demolido em 1944, cedeu lugar à Faculdade de Medicina inaugurada em 29/11/1956.
Do outro lado da Rua Larga, e deficientemente desenhado no mapa, marcámos a cor-de-rosa o rectângulo do Colégio de São Paulo-o-Eremita. Depósito de livros da UC durante décadas, casa mãe do Instituto de Coimbra (=Clube dos Lentes), este colégio preenhe um lugar mítico nas memórias académicas. A AAC ocupou-lhe o rés-do-chão entre 1913-1920 e os restantes pavimentos de 1920 até 1949. A ocupação plena do imóvel é conhecida pela designação de Tomada da Bastilha. O espaço demolido viria a ser aproveitado pelo Departamento de Química e Física da FCTUC.
Descendo em direcção ao Jardim Botânico, um círculo vermelho assinala com exactidão a implantação da Porta da Traição ou da Genicoca. O arco, em forma de ferradura, foi demolido em 1836 a mando da municipalidade. No prosseguimento da Rua da Traição, e bordejando o Jardim Botânico, adivinha-se a silhueta do Colégio/Igreja de São Bento (azul escuro). A igreja, que serviu de sede ao Orfeon Académico e de Ginásio ao Lyceu de Coimbra, viria a ser demolida em 1932. Substancialmente restaurado e remodelado, o Colégio de S. Bento acobertou os liceus de Coimbra, funcionando na actualidade como Instituto de Antropologia.
À frente do Colégio de S. Bento (claustro antigo omisso no desenho), corriam os pilares e arcos do Aqueduto de S. Sebastião e a Ladeira do Castelo (=do Lyceu, Martim de Freitas). Do lado oposto ao flanco norte da Igreja de S. Bento insinuava-se um robusto muro da antiga muralha. Sobre ele se erguia o mal conhecido Colégio dos Militares (lilás), dotado de claustro, que tendo servido de Hospital dos Lázaros, foi sacrificado aos projectos do Departamento de Matemática (17/04/1969) e parte da Praça D. Dinis. Colado ao Colégio dos Militares, um rectângulo a tracejado vermelho indica parte das fundações do Castelo de Coimbra, sobre as quais Pombal indicou a construção do Observatório Astronómico (não construído). Mais metro, menos metro, ali está o colossal D. Dinis.
Passando o Largo do Castelo e o Arco do Castelo (não assinalado), avistam-se o Colégio de S. Jerónimo (amarelo claro) que foi casa mãe dos Hospitais da UC até 1987, o Real Colégio das Artes (cor de laranja), sede do Lyceu de Coimbra e dos Hospitais (obras profundas em 1904), servindo no presente o Departamento de Arquitectura.
A verde claro assinalou-se o Colégio de Jesus, com o templo promovido a Sé Nova pelo Marquês de Pombal. Na sequência da reforma pombalina o edifício recebeu os Hospitais da UC e o Museu de História Natural.
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