sexta-feira, agosto 04, 2006


Aqui jaz o FAC Posted by Picasa
Fotografia de apresentação pública do TEUC (Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra), organismo dramático misto fundado em 1938 sob a direccção técnica e artística do Prof. Doutor Paulo Quintela (nº 8 na foto).
O TEUC resultou da extinção do FAC (Fado Académico de Coimbra), organismo desprezado pelas elites de esquerda, mal amado pelos estudantes simpatizantes do regime, cuja existência se pautou por uma actividade muito irregular, a que acresceram na recta final a falta de sócios e de boas vozes.
À data da extinção corria à boca cheia que o FAC fora um organismo culturalmente inútil, não tendo realizado mais do que bailes, bazares filantrópicos e a edição de um jornaleco. O "mistério" da extinção do FAC nunca foi esclarecido publicamente. Ao TEUC interessava denegrir o passado do FAC, coisa que António José Soares fez com grande habilidade, e aos "castigados" ex-FAC a vergonha parecia calar qualquer veleidade. Deles resta unicamente Ângelo Vieira de Araújo.
O FAC (1930-1938) recebeu ordem de despejo em finais de 1937, em nota curta e seca do Presidente da Comissão Administrativa da AAC, equipa da confiança e de nomeação governamental encabeçada pelo estudante José Guilherme de Melo e Castro. Lutando desesperadamente pelo não bandono das instalações no sótão da Bastilha, Jorge Xabregas aproveitou uma reunião do FAC, de 25 de Novembro de 1937, para criar no interior do organismo em perigo um grupo teatral. O novo grupo começou a ensaiar em Janeiro de 1938, tendo feito a sua estreia pública em 27 de Junho desse mesmo ano.
O FAC não foi extinto em resultado da continuada sangria de sócios, nem sequer porque os seus sócios o tenham abandonado e trocado pelo jovem TEUC. O FAC foi extinto devido a pressões governamentais oriundas do Ministério da Educação Nacional, então titulado pelo antigo lente de Direito da UC António Carneiro Pacheco, um feroz inimigo da prática do "Fado".
A aposta de Carneiro Pacheco incidia sobre a música coral, concebida como projecção da união mística das massas (naipes) com o chefe (maestro). Infelizmente para os seus entristecidos sócios, o FAC tinha um passado demasiado suspeito: nada o livrava da má fama de organismo inútil, dedicado a "fados", bailes, vinho e petiscos; a nomenclatura do organismo era suspeita aos olhos do regime (não era aceitável nem considerado digno que uma universidade acobertasse actividades do tipo casas de fados); alguns dos nomes mais sonantes do FAC tinham-se distinguido ao longo dos anos trinta justamente como intérpretes de fados ao estilo de Lisboa (ele era o "Fado Espanhol", ele era o "Fases da Lua", ele era o "Fado dos Cegos", ele era o "Fado do Conde de Anadia"...).
Além dos notáveis como Paulo Quintela (nº 8) e Barrigas de Carvalho, a fotografia mostra Jorge de Morais Xabregas (nº 1), Abílio Ribeiro de Moura (nº 2), João Gonçalves Jardim (nº 3), Condorcet Pais Mamede (nº 4. Foi do FAC e arranhava uns acordes de guitarra), Décio da Rocha Dantas (nº 5) e lentes que haviam sido guitarristas/ou cantores. Maximino Correia (nº 6) fora executante de guitarra, de rabeca, e cantor. Na década de 20 ainda fazia solos no Orfeon Elias de Aguiar. João Duarte de Oliveira (nº 7), que tocara guitarra nos tempos de estudante, era um fanático da arte guitarrística de Manuel Mansilha, destestando os rumos que a guitarra tomara pela mão de Artur Paredes (não conseguia engolir o abandono da afinação natural).
Das raparigas do grupo são reconhecíveis a primeira directora, Madalena de Almeida, e Mariberta Carvalhal (que nos ajudou nas identificações).
Fonte: António José Soares, "Subsídios para a História do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (1938-1961)", Coimbra, Edição do TEUC, 1961.
AMNunes

relojes web gratis