sexta-feira, julho 14, 2006


Dr. Afonso de Sousa Posted by Picasa
O Dr. Afonso de Sousa (1906-1993) fotografado na sua casa de Leiria, no dia 24 de Novembro de 1989, data em que ofertou ao Museu Académico a Guitarra Toeira de Coimbra que usara enquanto estudante. Para variar, tenta dedilhar um trecho de uma composição do seu querido amigo e "mestre" Artur Paredes, numa guitarra moderna proveniente dos Grácios.
Não sendo um conservador no plano político e artístico, Afonso de Sousa foi sempre um adepto da antiga Guitarra Toeira. Interpelando o amigo sobre o assunto, Artur Paredes respondia-lhe que um artista devia procurar soluções/experiências distanciadas da estagnação. A Guitarra de Coimbra moderna, de tipo parediano, adequava-se perfeitamente ao temperamento arrebatado e ao estilo enérgico de Artur Paredes. Mais calmo, Afonso de Sousa entendia que os dois cordofones podiam ter lugar no panorâma artístico conimbricense, de acordo com as solicitações dos executantes e amostras reportoriais a trabalhar.
O "partido" de Artur Paredes venceu em toda a linha, mas lá no fundo a razão estava do lado de Afonso de Sousa. Aliás, o processo de implantação do novo modelo de guitarra não foi rápido nem pacífico. O instrumento só triunfou nas formações juvenis conimbricenses por meados da década de 1950. Na década de 1960 ainda se viam guitarristas das décadas de 20/30/40 com o velho modelo de Guitarra Toeira. Nos meios populares locais menos afectos a Artur Paredes e mais dados à herança de Flávio Rodrigues, por muitos anos se argumentou que o novo modelo de guitarra não se adequava a incarnar convenientemente as tradições musicais de Coimbra. Na opinião destes alvitristas, quase todos salatinas ou salatinas deslocados para as periferias da cidade após as demolições salazaristas, a "verdadeira" Guitarra de Coimbra era a Guitarra Toeira. No caso das formações activas na cidade do Porto não há dados disponíveis sobre o onde e o quando da substituição do modelo antigo pelo moderno.
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(mensagem remetida pelo Dr. Afonso de Oliveira Sousa
Caro Dr. Nunes:
acabo de ler o blog ( é assim que se diz ? ) sobre o meu Pai, dedilhando em casa. E convenci-me, definitivamente, de que é um profundo analista da história coimbrã. De facto, o meu Pai era um romântico, pecando até pela adoração do ultra-romantismo. Daí que é seguramente verdadeira a sua análise: ele tinha saudades da guitarra toeira, para interpretar certos temas, que gostava adocicados. Mas, por outro lado, tinha uma grande admiração pelo Artur Paredes. E acabou por encomendar aos Grácios 3 guitarras "paredianas ". Duas delas ainda estão cá em casa. A última foi encomendada dois ou três anos antes da morte.Tenho pena de não a saber tocar, pois irá perdendo as qualidades. Mas sabe? Fui vítima de muitos serões aqui em Leiria, de grandes vultos. O Artur Paredes vinha cá passar férias ( o meu Pai era a única pessoa que o conseguia arrastar para uma casa alheia). Eu, à noite, pequenito ou adolescente, ficava-me a ouvi-los. E foi então que me convenci de que não valia a pena tentar... Bastava ouvir o Paredes tocar, na perfeição as "Czardas" (para aquecer os dedos), para que qualquer veleidade própria me abandonasse. Assim se faz a história dos não dotados... Ao menos que lhes reste alguma memória do que viram ou ouviram. Ou que façam história, como o meu Amigo!)
AMNunes

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