domingo, abril 09, 2006


Tricanas aguadeiras Posted by Picasa
Ao contrário de outras cidades portuguesas, como Lisboa, não se conhece em Coimbra a figura do homem da água fresca com a sua sarronca de barro e galheteiro, o galego aguadeiro com o pipo às costas (L'Èveque, 1814; álbum Corazzi, 1888), ou a popular carroça da água que L'Éveque registou em 1814. Não obstante as cantadas bicas do Largo de Sansão, o chafariz do adro da Sé Velha e do Marco da Feira dos Estudantes, e o obstruído aqueduto de S. Sebastião, a água potável escasseava no casaria da Alta. Era necessário ir buscá-la às fontes e ao Mondego.
Nestes trajos femininos, datáveis da última década de oitocentos e do 1º decénio de 1900, tricanas aguadeiras envergam trajos de trabalho. Saias compridas, de roda farta, aventais, blusas a tender para a chita barata, lenços de merino com enramados (tão apetitosos às traças), xailes traçados. Há notícia de xailes em versões "risca de seda", "orvalho" e "Primavera". Postais há, reportados a este período, que documentam versões bem mais pobres das aguadeiras: saia listada, pés descalços, avental simples, cinta meio palmo abaixo do cós, blusinha de chita com florinhas, lenço, xaile simples monocromático, cântaro de folha, ausência de ouros, rosto de linhas sofridas. Nestas versões mais humildes, um colete de lã e uma saia de baixo eram toda a "riqueza" da roupa interior. Ausentes as meias, as chinelas e os calções de linho, era famosa em todas as províncias a imagem da mulher que imóvel, de pé, ou acocorada, urinava pelas pernas abaixo. Rodilhas e cântaros eram instrumentos de trabalho: talhas de barro, asados de folha de Flandres e pipos com aduelas. Bem penosa era a viagem de regresso à Alta, as cabeças doridas, o calcorreio suado da Couraça de Lisboa e do Quebra Costas. Alguma dessa água, turva no momento da recolha, seria depois coada em finos panos ou até fervida.
Reconstituição e foto: Doutor Nelson Correia Borges para o Grupo Folclórico de Coimbra
AMNunes

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