sábado, julho 09, 2005


Colóquio sobre canção de Coimbra. Notícia do Diário de Coimbra de hoje. Posted by Picasa


A Associação Cultural "Coimbra Menina e Moça" promove hoje o V colóquio com o tema "A lírica e a mulher na nova canção de Coimbra".
Notícia do Diário de Coimbra, com texto de Patrícia Isabel Silva. Posted by Picasa


Antigos Tunos em Assafarge, ontem. Actuação dos Antigos Tunos com Augusto Mesquita a reger.Posted by Picasa


Antigos Tunos em Assafarge, ontem. Gomes Pereira tirou-me esta foto em que põe em evidência a belíssima guitarra construída por Gilberto Grácio. Posted by Picasa


Antigos Tunos em Assafarge, ontem. No intervalo, o Vereador da Cultura, Mário Nunes "confessa" Augusto Mesquita.
Foto de Gomes Pereira. Posted by Picasa


Antigos Tunos em Assafarge, ontem. Jorge Condorcet com a sua varinha mágica acompanhado do seu ajudante, Silva Afonso. Posted by Picasa


Antigos Tunos em Assafarge, ontem. Jorge Condorcet desempalmou o lenço! Posted by Picasa


Antigos Tunos em Assafarge, ontem. Jorge Condorcet está a ver quntas horas e "centímetros" são! Posted by Picasa


Antigos Tunos em Assafarge, ontem. Victor Nunes, Octávio Sérgio, Manuel Mora e Humberto Matias, a ensaiarem, antes de entrarem em palco.
Foto tirada por Armando Duarte. Posted by Picasa


Antigos Tunos em Assafarge, ontem. Manuel Mora, Octávio Sérgio e Humberto Matias, nos instrumentos. Victor Nunes a cantar.
Foto tirada por Gomes Pereira. Posted by Picasa

sexta-feira, julho 08, 2005

Apresentação do GUITOLÃO no Museu do Fado, em Lisboa

Perante uma sala a abarrotar de gente, Gilberto Grácio e António Eustáquio apresentaram o novo instrumento a que Gilberto Grácio deu o nome de Guitolão. Seguem-se as palavras do seu construtor e autor:
“Tinha um projecto antigo que começou por ser uma guitarra barítono, com caixa de tamanho normal, modelo de Coimbra, e com o braço mais comprido seis polegadas de escala. Resultou de uma conversa com Carlos Paredes em 1970 onde, timidamente como era apanágio dele, mostrou vontade de ter uma guitarra com o braço mais comprido, pois lhe dava mais espaço de execução e outras afinações. Não me disse qual o comprimento, mas eu estudei esse desejo e executei a guitarra barítono que vou mostrar. Esta guitarra foi tocada ainda por Carlos Paredes mas em 1974/75 ele pô-la de parte, sem eu saber por quê.
Há já alguns anos que pensei em construir um instrumento diferente, pois alguns executantes da guitarra, não só tocavam a solo como tocavam com orquestra ou grupo de cordas. Havia um vazio, a adaptação não era perfeita. Foi este o motivo que me fez avançar com o projecto do guitolão, tendo no fim a preciosa ajuda de Luísa Amaro que o tocou para eu testar as cordas e a afinação.
Foi assim que António Eustáquio experimentou e ficou fascinado. No passado dia 18 na vila de Marvão, foi inaugurado o instrumento. E por quê Marvão? A história começa em 1987 quando despachei madeiras e outros materiais na Alfândega de Marvão, madeiras essas usadas agora neste instrumento. António Eustáquio é de lá e foi a Senhora Vereadora do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Marvão, Dra Madalena Tavares, à qual agradeço estar presente neste auditório, que me pediu que o guitolão fizesse parte do concerto que seria gravado em DVD e que irá integrar a candidatura de Marvão a Património Mundial da Unesco. É desse concerto com o guitolão executado por António Eustáquio e o Quarteto Ibero-Americano que vão ver e ouvir alguns momentos”.

A primeira peça que se ouviu é de um encanto celestial. António Eustáquio tem aqui uma obra de grande mérito, com uma melodia nos violinos simplesmente divinal. O quarteto é de grande nível.
A segunda peça põe mais em evidência as possibilidades do guitolão, com uma sonoridade surpreendente.
António Eustáquio referiu que o instrumento é maravilhoso, com um equilíbrio fantástico, uma sonoridade com os graves bem definidos, além de ser lindíssimo.
Tocou depois ao vivo, uma peça a solo que, segundo disse, foi para destacar a parte mais grave do instrumento. E que delícia de peça!
Reparei que o istrumento numa gravação fica bem melhor que ao vivo. Ao natural não fiquei totalmente convencido mas depois de ouvir a gravação, mudei de opinião. Gravar com este instrumento é uma boa aposta. Valeu a pena o esforço de Gilberto Grácio. O instrumento, bem executado, basta-se a si próprio.
António Eustáquio tocou de seguida uma peça bem elaborada que pôs em evidência o aspecto melodioso do instrumento.
Seguiram-se esclarecimentos a que Gilberto Grácio respondeu, sempre que achou oportuno. Ficou a saber-se que a afinação do instrumento é Mi, Ré, Lá, Mi, Ré, Sol, das finas para os bordões. A corda mais fina do guitolão soa como o Mi da guitarra de Coimbra, ou seja, se fizermos travessão no quinto ponto, soa como uma guitarra de Coimbra em cordas soltas. Possui 20 trastes e, do cavalete à pestana, vão 24,5 polegadas. A parte interior é totalmente diferente da guitarra normal.
A sessão terminou ainda com outra peça tocada no guitolão por António Eustáquio a que chamou uma adaptação da “Titi” de Carlos Paredes.
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Comentário à sessão de apresentação do guitolão de Gilberto Grácio, por Paulo Soares
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Este construtor de guitarras relatou sucintamente como lhe havia ocorrido a construção do guitolão, justificando-a com a sua sensação de faltar um instrumento de sonoridade intermédia entre a guitarra e o violão. Afirmou tê-lo construído baseado exclusivamente sobre as suas ideias e tendências de design, sem se apoiar em nenhum outro instrumento porventura existente.

O guitolão tem um pouco mais de 60 cm e tiro de corda (distância do cavalete à pestana). A largura da caixa é apenas 1,5 m mais larga que o seu modelo de Lisboa. Não foi respeitada a proporção entre este comprimento e o da porção de corda desde o cavalete ao atadilho (na guitarra moderna é de um terço). Verifiquei que soava uma sexta maior acima da corda solta em vez da quinta perfeita característica das guitarras.
Perguntei-lhe qual o critério para a forma da caixa, ao que GG respondeu ter sido a estética e nada mais. Reforçou dizendo que tentou fazer um instrumento completamente novo.

Depois perguntei-lhe qual o barramento interno da caixa; se havia alguma diferença relativamente aos dois barramentos existentes (de duas e três travessas). Disse que era diferente, apenas. Chegou a afirmar que a rosácea na boca se destinava a embelezar o instrumento.

Sobre o António Eustáquio:

Grande simpatia e grande simplicidade. Qualidades que já lhe conhecia. Assistiu-se a uma gravação vídeo da estreia do guitolão tocado pelo Eustáquio acompanhado de quarteto de cordas. Peças dele, pelo menos uma integrada na sua Suite das Folhas, rearranjada para guitolão e quarteto de cordas, com transposição do arranjo original de uma quinta para o adaptar à afinação do guitolão.

Sobre o Guitolão:

Gostei da sonoridade. Tem grande riqueza de harmónicos, certamente devido ao grande comprimento de corda. É equilibrado e distinguem-se suficientemente bem as notas. Está bem construído. Arrisco-me a afirmar que, de todas as guitarras Gilberto Grácio que conheço, é a que melhor responde acima do 12º trasto, com uma resposta dinâmica agradável.
O instrumento tem sido usado com a afinação do Fado transposta uma quinta (três tons e meio) abaixo da afinação do Fado de Lisboa, resultando nas notas mi3-ré3-lá2-mi2-ré2-sol1 (do agudo para o grave).
Esta afinação não me parece que venha a vingar no instrumento, pois as distâncias entre os pontos é demasiado grande. Sugeri ao Eustáquio o estudo de outras afinações com o que ele concordou. Toquei um pouco e gostei da resposta do instrumento. Acho que com um guitolão conseguiria fazer um acompanhamento completo de Fado de Coimbra, com o carácter grave a que estamos habituados, prescindindo do violão.
Mas guitolão ainda só há um, e pertence ao Eustáquio que vive para as bandas de Portalegre...


Lançamento do Guitolão no Museu do Fado, dia 6 deste mês. António Eustáquio em plena actuação. Posted by Picasa


Lançamento do Guitolão no Museu do Fado, dia 6 deste mês. António Eustáquio e o guitarrão, usado por Carlos Paredes. Posted by Picasa


Lançamento do Guitolão no Museu do Fado, dia 6 deste mês. Gilberto Grácio construtor e autor do instrumento. Posted by Picasa


Lançamento do Guitolão no Museu do Fado, dia 6 deste mês. António Eustáquio e Gilberto Grácio na mesa. Posted by Picasa


Lançamento do Guitolão no Museu do Fado, dia 6 deste mês. António Eustáquio em plena actuação. Posted by Picasa


Lançamento do Guitolão no Museu do Fado, dia 6 deste mês. Um aspecto da numerosa assistência. Posted by Picasa

quarta-feira, julho 06, 2005


Apresentação do GUITOLÃO, da autoria de Gilberto Grácio, a 6 de Julho, às 19 horas, no Museu do Fado. António Eustáquio irá fazer uma demonstração. Posted by Hello


Grupo "Guitarras do Mondego" , ontem, actuando no Arco de Almedina.
Pedro Gama, viola; Paulo Conceição e Pedro Manso, Guitarra; Nuno Vaz a cantar.


Grupo "Guitarras do Mondego" , ontem, actuando no Arco de Almedina.
Pedro Gama, viola; Paulo Conceição e Pedro Manso, Guitarra; Nuno Lages a cantar.


Grupo "Guitarras do Mondego" , ontem, actuando no Arco de Almedina.
Pedro Gama, viola; Paulo Conceição e Pedro Manso, Guitarra; Nuno Vaz e Nuno Lages no canto.


Grupo "Guitarras do Mondego" , ontem, actuando no Arco de Almedina. Um aspecto da assistência. Posted by Picasa


Grupo "Guitarras do Mondego" , ontem, actuando no Arco de Almedina. Um aspecto da assistência. Posted by Picasa

terça-feira, julho 05, 2005

A propósito da candidatura da Canção de Coimbra
a Património da UNESCO


Jorge Cravo

Com a candidatura da Canção de Coimbra a Património da Humanidade pela UNESCO, novas perspectivas se abrem para que a Música Tradicional de Coimbra, na sua vertente popular e académica, seja equacionada como um bem cultural a necessitar de ser preservado e divulgado sem atropelos à sua raiz regional e local.

Sem querer cometer alguma inconfidência, importa desde já referir como esclarecimento, que em pouco mais de dois meses (entre Março e Maio de 2004), a Canção de Coimbra passou de candidata à "Proclamação de Obra-Prima do Património Oral e Imaterial da Humanidade" à de "Património Cultural Imaterial", e desta, à sua integração na candidatura da Universidade de Coimbra a "Património Mundial da UNESCO", num processo sem mácula alguma, longe de qualquer "ruído" nos orgãos de comunicação social, e sem que os pressupostos em que, primeiramente, se baseou a candidatura desta Canção fossem minimamente afectados. Bem pelo contrário, penso que a Canção de Coimbra só tem a ganhar se inserida numa candidatura mais ampla que envolva o Paço das Escolas e a zona da Alta circundante, não fazendo sentido duas candidaturas a decorrer em paralelo, oriundas da mesma cidade, quando a própria Canção encerra em si mesma um duplo filão (o popular e o académico), sendo por isso mesmo interpretada quer por estudantes, quer pela população em geral. De facto, existe uma fortíssima relação entre a Cidade, a Universidade e esta Canção. Por muito que alguns procurem esvaziar esta ligação, a própria comunidade académica e popular onde a Canção de Coimbra se insere, tendem a reforçar esta complementaridade. Ambas se reflectem na sua música e vivem esta Canção como seu património. Foi, pois, natural, a solução encontrada quanto ao introduzir a Canção de Coimbra no imaginário estudantil que acompanhará a candidatura do Paço das Escolas. Imaginário este preenchido pelas repúblicas, por festividades académicas, algumas praxes e costumes vários, num conjunto de manifestações tradicionais vivas incluídas num dos critérios da proposta de Candidatura da Universidade.

Ressalvemos todavia que, embora integrada na candidatura da Universidade de Coimbra a património da UNESCO, a Canção de Coimbra será sempre perspectivada como um bem cultural imaterial. Ideia reforçada pelo Magnífico Reitor, quando na sessão de assinatura do Protocolo entre a Universidade e a Autarquia, no passado dia 2 de Dezembro, afirmou, referindo-se à Canção de Coimbra, à praxe, cerimónias e trajes académicos, estar-se na presença de "um património intangível, associado à vida académica".

Mas, o que se entende por Património Imaterial? O que pretende a UNESCO? Qual o enquadramento possível da Canção de Coimbra, como bem cultural, nesta categoria, sem esquecer o grau de importância que a cidade quererá dar a tal atributo?

Após a adopção da Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural, em 1972, por parte desta Organização, alguns Estados-membros manifestaram o interesse em ver criado um instrumento de protecção do património imaterial. Assim, viria a ser adoptada, em 1989, a Recomendação para a Salvaguarda da Cultura Tradicional e do Folclore.

Posteriormente, em 1999, o Conselho Executivo da Organização decidiu criar uma distinção internacional intitulada "Proclamação das Obras-Primas do Património Oral e Imaterial da Humanidade", para distinguir os exemplos mais notáveis de espaços culturais e formas de expressão popular e tradicional tais como as línguas, a literatura oral, a música, a dança, os jogos, a mitologia, rituais, costumes, artesanato, arquitectura e outras artes, bem como formas tradicionais de comunicação e informação.

O objectivo da Proclamação é encorajar os Governos, as Organizações Não Governamentais (ONG) e as comunidades locais a identificar, salvaguardar, revitalizar e promover o seu património oral e imaterial.

A Proclamação das Obras-Primas do Património Oral e Imaterial foi, pois, um dos dois projectos da UNESCO no domínio do património imaterial. O outro projecto consistiu na criação de uma Convenção Internacional para a salvaguarda do Património Imaterial, aprovada pela Conferência Geral na sua 32ª sessão, em 17 de Outubro de 2003.

No fundo, o que a UNESCO pretendeu nesta Convenção, foi reunir na mesma base jurídica, os fundamentos, a metodologia e o programa daquela Proclamação (1999) e da sua antiga Recomendação de 1989. Fundamentalmente o que se pretende é a inventariação das culturas tradicionais existentes no planeta, elaborar uma lista dos bens culturais intangíveis a preservar e salvaguardar as culturas-tradição que estejam em vias de desaparecimento.

Evidentemente que tal salvaguarda passa pelo financiamento de acções pensadas urgentes e indispensáveis à preservação do bem em questão. Financiamento que deve ser suportado por um fundo da UNESCO proveniente de comparticipações dos estados-membro, única e exclusivamente com estes objectivos.

Com a entrada em vigor desta Convenção – o que sucederá quando a mesma for ratificada por 30 países (e que se espera que o seja durante o corrente ano) –, será extinta a Proclamação das Obras-Primas do Património Oral e Imaterial, e os bens entretanto proclamados como tal serão integrados na futura Lista do Património Imaterial a preservar. Ou seja: desde Março de 2004 que já se sabia que de candidata a "obra-prima do património oral e imaterial", a Canção de Coimbra passaria a ser objecto de candidatura a "Património Cultural Imaterial".

A UNESCO define como património imaterial (= intangível), "tudo aquilo que engloba manifestações culturais tradicionalmente populares, saberes colectivos produzidos por uma certa comunidade e fundados sobre uma tradição, transmitidos oralmente, através dos gestos, modificado através dos tempos por um processo de recriação colectiva (por exemplo, a música, a dança, os rituais, as festividades (...), etc.". Ainda para esta organização internacional, o património imaterial engloba "os processos adquiridos pelos povos, assim como os saberes, as competências e a criatividade de que são herdeiros e que desenvolvem, os produtos que criam e os recursos, espaço e outras dimensões do quadro social e natural necessários à sua durabilidade; estes produtos inspiram às comunidades vivas um sentimento de continuidade por relação às gerações que as precederam e revestem-se de uma importância crucial para a identidade cultural, assim como para a salvaguarda da diversidade cultural e da criatividade humana." Ou seja, de uma forma mais simples, podemos afirmar que património imaterial tem a ver com tudo o que está longe daquilo que é fisicamente palpável (= tangível). Isto é: tudo o que não cabe no património arquitectónico, monumental, de construção, mas envolvendo todo o tipo de vivências humanas, representações mitológicas e simbólicas e produtos culturais provenientes da arte e engenho das comunidades que os produzem. Ora, como a UNESCO fala de uma qualquer manifestação cultural transmitida oralmente e possível de ser recriada, é evidente que a Canção de Coimbra – cuja transmissão ainda se faz longe de um suporte físico, mas sim, com base na oralidade – inscreve-se, perfeitamente, nesta definição; isto para além de continuamente recriada por ser uma expressão musical geracional, renovável todos os anos.

Acrescente-se que para além da Canção de Coimbra, constituem exemplos de património imaterial: as Festas da Rainha Santa Isabel, a Queima das Fitas, as Fogueiras do S. João, o artesanato, ou até mesmo aquilo que se designa de "comércio tradicional" (que estando em vias de extinção na Baixa, encontra, ainda, pelas ruas da Baixinha, um agradável espaço onde desenvolver o seu imaginário). Também o preservar a vivência quotidiana dos bairros mais tradicionais da cidade, como bairros históricos, é, igualmente, algo que contribui para a manutenção do património imaterial desta terra: Bairro Silva Pinto, Bairro Norton de Matos, ou a própria Alta (com as suas relações vivenciais entre estudantes e futricas tendo como espaços de eleição: as repúblicas, os cafés, as mercearias e as casas de pasto que ainda vão resistindo naquela zona).

Ora, o que se pretende com a Convenção da UNESCO para este tipo de património é o de sabermos acautelar as diferenças culturais que nos separam. E isto, hoje em dia, num mundo que teima em uniformizar-se em excesso (mesmo naquilo que é incomparável) – fruto de uma errada compreensão do que se deve entender por globalização – é muito difícil fazer chegar às pessoas com responsabilidades na afirmação cultural diversificada das comunidades. Todavia, num mundo em tempo de globalização, uma comunidade que possua auto-estima, necessita saber preservar as paisagens sócio-culturais e musicais que lhe transmitam e revelem uma identidade (a sua identidade), a sua marca, o seu traço próprio, de forma a alcançar uma individualidade e visibilidade à escala planetária. Numa Europa cada vez mais de menos estados e cada vez mais de regiões, há que saber acentuar, proteger e valorizar as várias culturas-tradição que sejam expressão patrimonial de um espaço urbano, de um lugar, de uma comunidade. Neste sentido, a afirmação de Coimbra como cidade moderna implica o respeito e a valorização dos fenómenos culturais constituintes do seu património histórico e artístico que lhe permitam a sua projecção extramuros, reforçando a sua identidade local e o seu horizonte cultural.

O processo de globalização aplicado a Coimbra obriga a que o seu espaço urbano seja depositário de todo um conjunto de manifestações que constituem aquilo a que se chama de cultura urbana, transformando a cidade numa expressão de cosmopolitismo, onde a diversidade cultural se afirme. Resulta daqui que o seu próprio património sofre uma vulnerabilidade tal que obriga a repensá-lo sob o ponto de vista da sua preservação, da sua valorização, da sua revitalização e difusão. Assim, seria estranho, num mundo de grande globalização, que a comunidade académica e popular, como agentes principais de divulgação, não reconhecessem a Canção de Coimbra como seu património; logo, como uma memória histórico-musical de que são herdeiras; e que não encarassem esta Canção como um objecto fundamental na afirmação da diversidade cultural de Coimbra face a outras culturas-tradição espalhadas pelo País. De facto, a Canção de Coimbra é uma referência para a cidade, e poderá revelar-se um instrumento capaz de reforçar a imagem de Coimbra no panorama global das restantes cidades, desde que se redimensione o trinómio Canção-Identidade-Cidade para afirmação da sua música. Por outro lado, se se perspectivar a Canção de Coimbra como uma herança cultural, é porque a legitimamos como memória musical (uma memória colectiva), e então, há que encará-la como uma expressão musical que vinda do passado, ganha o conceito de imaterialidade no tempo actual, porque acaba sempre por ser vista como representação de um passado que continua a preencher o imaginário actual da comunidade popular e académica onde se insere, o que permite a contemporaneidade de um imaginário humano e social que se traduz num "sentimento de identidade" por parte da(s) comunidade(s) que sustenta(m) toda essa representação do passado. A sua imaterialidade como valor da memória leva a que a pesquisa das suas origens seja um imperativo actual, por forma a entender-se a sua representação na contemporaneidade e o seu significado na construção de um novo imaginário. Assim, quantas mais formas tradicionais de divulgação da Canção de Coimbra se conseguirem recuperar, melhor será para se entender o imaginário comunitário passado e mais facilmente se saber projectar esta Canção no futuro. Neste sentido, é necessário darem-se passos firmes e bem sustentados na intangibilidade que se souber registar, sob pena de amanhã esta Canção ser perspectivada como um produto da World Music, e no dia seguinte, estar reduzida a uma noite na Sé Velha para uma Serenata que, por incrível que pareça, não merece – da parte dos nossos agentes da Indústria Cultural – uma simples transmissão televisiva em directo, de forma regular.

Não penso que ao pretender-se recuperar as formas tradicionais de representação da Canção de Coimbra que caíram em desuso ou que estão em vias de extinção, se esteja a criar uma situação artificial; antes pelo contrário, estar-se-á a reforçar o seu ritual e a produzir uma destradicionalização que recupere de um tempo passado e originário todo um imaginário que poderá ser útil à sobrevivência da identidade e reafirmação do Cantar Coimbrão. Ou seja: é a memória da Canção de Coimbra, como herança cultural, que produz um património que deverá ser classificado. E por que a identidade só existe face à diferença, a candidatura que se pretende desta Canção, como elemento identitário de uma cultura musical regional e local de um lugar elevada a um patamar universal de preservação e divulgação, só será viável se soubermos elaborar uma memória histórica descritiva que aponte – para além das diferenças musicais que a distinguem de outro qualquer género musical (desde o período medieval) e, em especial, do Fado de Lisboa (a partir do primeiro quartel do século XIX) – as características do imaginário onde sempre se difundiu e lhe ditam outro tipo de diferenças. Falar de uma identidade cultural em termos de Canção de Coimbra implica relacionar essa cultura musical com o próprio espaço urbano que a cidade representa e onde a sua comunidade popular e universitária se organizam. É importante saber definir e caracterizar as relações que desde sempre se estabeleceram entre ambas, o modo como a população e os estudantes sempre viveram a sua Canção, a sociabilidade interactiva que nelas se produziu através dos tempos, para entendermos qual o produto musical que temos necessidade em preservar e difundir. É que se não deitarmos mão a algumas especificidades que caracterizam e distinguem esta Canção, como cultura musical de um lugar, a candidatura não tem fundamento. Daí que o mais importante seja que todo o discurso da memória musical desta cultura-tradição que se recuperar seja bem aceite por ambas as comunidades que actualmente a interpretam. Assim espero.

Segundo a UNESCO, o bem cultural que qualquer Estado-membro tencione candidatar, deverá assentar nos seguintes critérios de selecção:

a . Valor excepcional como obra prima do génio criador humano;

b . Profundamente enraizado na tradição cultural ou na história cultural da comunidade;

c . Papel de relevo na afirmação da identidade cultural, importância como fonte de inspiração e troca intercultural e meio de aproximar povos e comunidades, e papel cultural e social contemporâneo na comunidade envolvida;

d . Excelência na aplicação dos conhecimentos e qualidades técnicas;

e . Singularidade da tradição cultural viva;

f . Risco de desaparecimento, quer devido à falta de meios de salvaguarda e protecção, quer devido ao processo de rápida mudança, ou à urbanização, ou à aculturação.

Ora, aplicar estes critérios de selecção à Canção de Coimbra, é saber sustentar objectivamente a sua candidatura. Assim:

1. Tem valor excepcional como obra prima do génio criador humano (alínea a), pois tendo esta Canção um duplo filão (popular e académico), é executada, no filão popular, pelo habitante urbano não-académico, que para além da sua profissão (seja comerciante, operário, trabalhador, funcionário público ou bancário, barbeiro ou sapateiro, etc), encontra tempo e disposição para desenvolver o seu talento musical sem ser um profissional da música ou tão pouco saber música; e no filão académico, é interpretada por estudantes e antigos estudantes, que longe de saberem música ou serem profissionais da música, continuam a dignificar - cada qual à sua maneira, ao seu estilo e ao seu ritmo - esta Canção, sem nunca abdicarem das suas actividades profissionais para as quais estudaram, tendo o privilégio de se dedicarem à Canção de Coimbra, da mesma maneira que outros cantaram no Orfeon, representaram teatro no TEUC ou no CITAC, jogaram rugby ou futebol na Académica. O que não deixa de ser surpreendente, e daí excepcional, o facto de pessoas sem formação musical específica saberem preservar e renovar este património musical.

2 . A Canção de Coimbra é um género musical profundamente enraizado na tradição cultural e na história cultural da comunidade (alínea b), porque, não só desde sempre, as danças e os cantares do povo coimbrão, assim como todo um conjunto de representações etno-musicais em torno das fogueiras dos santos populares, as canções de trabalho, os cânticos de embalar, as cantigas de amor, a balada, a trova, barcarolas e nocturnos, cantigas e descantes, são parte integrante do Cancioneiro Popular de Coimbra; como paralelamente a este filão popular, sabe-se que, pelo menos, desde o século XVI, era hábito os estudantes de Coimbra cantarem e tocarem noite dentro pelas ruas da cidade. (Prova factual é a missiva que o rei D. João III enviou ao então magnífico reitor da Universidade - D. Agostinho Ribeiro - em 20 de Junho de 1539, dando conta da necessidade em se pôr fim à algazarra e às cantorias que os escolares faziam altas horas da noite, já que eram muitas as queixas dos habitantes da cidade). E, quanto à Serenata, como ritual, ela é muito anterior cronologicamente, pois remonta à Idade Média.

3. Fruto da coabitação entre estas duas comunidades (a popular e a académica), e da sua divulgação constante pelo mundo, a Canção de Coimbra tem papel na afirmação da identidade cultural, importância como fonte de inspiração e troca intercultural e meio de aproximar povos e comunidades, e papel cultural e social contemporâneo na comunidade envolvida (alínea c).

4. Por não ser, ainda, executada, única e exclusivamente, por músicos profissionais e intérpretes com formação superior na área do Canto e da Música, é um género musical que assenta, essencialmente, na aplicação de fórmulas de digitação da guitarra e de interpretação vocal profundamente enraizadas na cultura local, e transmitidas oralmente, o que nos revelam a excelência na aplicação dos conhecimentos e qualidades técnicas (alínea d) regionais e locais que caracterizam esta cultura-tradição, por parte dos seus executantes.

5. Continua a ser uma canção de grande singularidade e uma tradição cultural viva na cidade, o que está de acordo com a alínea e.

6. Por fim, estando a Canção de Coimbra actualmente envolvida numa fase de experimentalismos musicais vários - fruto do hibridismo musical que a própria globalização cultural nos permite - bem visível na utilização de novos instrumentos na sua forma de acompanhamento (saxofone, violoncelo, acordeão, etc), assim como o recurso a orquestra, e a uma tentativa de fusão com outros géneros musicais, nomeadamente o jazz (e, por ventura, o Fado de Lisboa?), esta Canção sofre hoje um processo de descaracterização tal, que conduz a um preocupante abandono de práticas identitárias e diferenciadoras desta música regional e local em relação a outros géneros musicais, transformando-as em banalidades e adulterando-se a sua vivência humana, o seu imaginário e o seu ritual. Daí o risco de desaparecimento (alínea f) das suas formas mais regionais e locais de execução, devido a fenómenos de aculturação vários, mas que deveriam sujeitar-se a uma triagem de sons matricialmente identificáveis com esta música tradicional da cidade de modo a preservar a essência deste Canto.

Como é fácil concluir do que se escreveu, a Canção de Coimbra não pode ser dissociada de todo um imaginário humano e social, de toda uma vivência espiritual e mental, cuja representação intangível reflecte hoje o seu passado e nos surge como suporte de uma candidatura à UNESCO.

Quanto a mim, negar este património é esvaziar os conteúdos em que deve assentar esta Candidatura. Assim, há que assumir que só a recriação da Canção de Coimbra se pode assumir como Património a preservar.

Nesta perspectiva, alguns tópicos deverão ser objecto de recolha, investigação, estudo e divulgação para suportar a inclusão da Canção de Coimbra no imaginário vivencial do estudante e da própria cidade.

1. Nótula histórica sobre a génese, evolução e imaginário da Canção de Coimbra, seu enquadramento na Academia e na cidade, tendo em conta o grau de sociabilidade entre populares e estudantes, e o modo como vivem e recriam a sua Canção.

2. Testemunhos sonoros e documentais, tendo como base: 1) a biodiscografia de cultores-referência, com especial relevo para a figura amadora do cidadão comum/filão popular e do estudante-cultor/filão académico, sendo imprescindível a aquisição das 523 gravações em 78 rpm de "Fado de Coimbra", datadas, inicialmente de 1904, pertença do cidadão inglês Bruce Bastin, bem como, a recolha de iconografia vária; 2) edição de um Cancioneiro de Música Tradicional de Coimbra.

3. Bibliografia assente na edição/reedição de obras de investigação de reconhecido mérito, consideradas pertinentes para adição à bibliografia-base preconizada pela UNESCO como parte integrante do processo de Candidatura.

4. Plano de Revitalização da Canção de Coimbra com a realização de eventos vários que consagrem as formas tradicionais desta Canção um produto cultural a divulgar como "marca" da Cidade e da Universidade de Coimbra.

Ora, é possível que a maioria das pessoas veja como objectivo último da Candidatura a consagração da Canção de Coimbra como património da UNESCO. Mas há uma pergunta pertinente a fazer: o que ganhará a Canção de Coimbra com esta Candidatura para além do seu reconhecimento patrimonial?

Pois bem, acredito que este processo de candidatura poderá sustentar, através de uma investigação séria e responsável, aquilo que muitas vezes se afirma em privado, mas que raramente é assumido em público: que a Canção de Coimbra não tem a sua origem no Fado de Lisboa! De facto, existe já investigação que aponta neste sentido, havendo assim a oportunidade de, uma vez por todas, se colocar fim à confusão reinante entre o que se canta em Coimbra e em Lisboa. Creio que o País só terá a ganhar na afirmação da sua diversidade cultural neste campo. Na minha perspectiva, esta é mais uma justificação para que a Candidatura ganhe enorme significado. Todavia, nunca será de mais reafirmar que o fundamental é que o processo seja conduzido com seriedade e sentido de responsabilidade, tendo sempre presente o assumir-se a Candidatura pela diferença e não pela confrontação em relação ao Fado de Lisboa.

Por outro lado, embora não defenda (nem nunca tenha defendido) a transformação da Canção de Coimbra num "artefacto" musical museológico, creio ser necessário contrapor ao imaginário artificial que se vai desenvolvendo em Coimbra como forma de divulgação da sua Canção, as suas representações mais tradicionais de difusão, que têm de ser defendidas e preservadas, sob pena da Candidatura não ter qualquer sentido nem justificação. A renovação da Canção de Coimbra não implica o adulterar da sua memória identitária rumo a um novo-riquismo musical. A memória histórico-musical da Canção de Coimbra, por muito que custe a alguns que nada dela querem preservar, nunca foi, nem alguma vez será, uma memória descartável. Aliás, a própria UNESCO estipula que a Candidatura tem de apresentar um plano de acção para a protecção e revitalização da expressão cultural em questão, enquanto género musical tradicional. É nesta perspectiva que a Canção de Coimbra não pode ser adulterada e distorcida com o objectivo de mais facilmente ser integrada na cultura turística da cidade para dar resposta a qualquer tipo de consumo global imediato. Esta Canção para se dar a conhecer aos outros e ao mundo tem de reencontrar a sua própria identidade. Tem de se saber diferenciar de tudo o resto, e só depois de redefinida a sua identidade "local" é que é possível divulgá-la sem atropelos à sua raiz regional e local numa mundialização que lhe permita ultrapassar a crise de identidade e de criatividade que hoje a condiciona e limita.

Em suma, a candidatura da Canção de Coimbra a património da Humanidade deve:

. acentuar as suas diferenças em relação ao Fado de Lisboa;

. recuperar formas de expressão tradicionais que revelem a sua identidade com a cidade e a Universidade.

É que esta Canção como música tradicional é já pertença do património intangível. Para que o seja oficialmente carece apenas de ser consagrada pela UNESCO como tal. Mas a candidatura deve envolver muito mais do que um simples epíteto como objectivo.
Este texto de Jorge Cravo foi editado no Diário de Coimbra nos dias 13 de Março e 3 e 10 de Abril.


"Noites de Verão com Fado", hoje, no Arco de Almedina, às 22 horas, com o grupo "Guitarras do Mondego". Posted by Picasa

Bloco de Notas (16)

1981 ... Fui ao Teatro Maria Matos gravar um programa para a televisão. O Rui Gomes Pereira cantou “Canção para um menino” de Durval Moreirinhas, que também o acompanhou, seguindo-se “Cantiga para quem sonha” e “Sonhei contigo ó Coimbra”. Terminei com a “Balada de Coimbra”.
No dia aprazado vi o programa transmitido pela televisão, em casa do meu irmão José Luís. Não notei falhas. A Balada achei-a tocada como poucas vezes a ouvi. Fiquei deveras satisfeito com a minha actuação. Gostaria de ter tocado peças minhas, mas o Durval nunca se dispôs a acompanhá-las.
Estive no Arnaldo Trindade com Durval Moreirinhas a ensaiar com José Afonso para a gravação do disco. Agora José Afonso está a cantar meio tom e até um tom abaixo do que fazia nos primeiros ensaios.
Tenho passado por cima da indicação de muitas actuações em espectáculos referidas no bloco de notas. Na verdade, nesta altura, o nosso grupo era muito solicitado. Numa destas actuações em que foi Machado Soares, este disse que foi muito bem acompanhado, que éramos artistas e que só assim se compreendia os bons acompanhamentos sem nenhum ensaio. Gostou muito duma introdução em si maior que fiz para o disco “Melro” de Janita Salomé.
Num restaurante em S. Pedro de Alcântara, “Porta Branca”, a convite da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra em que estava Jorge Tuna a assistir, este apreciou muito a minha maneira de tocar a “Rapsódia nº 2” de Artur Paredes. Estava também lá o Alcides, um belíssimo acompanhador de viola que conheci há uns vinte anos , em Viseu, quando ainda estudante. Na altura eu e os elementos do meu grupo ficámos surpreendidos com a desenvoltura daquelas mãos sobre a escala da viola. Abriu-nos os olhos em muitos aspectos da execução deste instrumento. Disse-me então que tinha lá feito a tropa no RI 14, durante dois anos. Pena foi só o termos encontrado uma vez!
Gravei a 22 de Junho, seis números com José Afonso. A 26 coloquei uma segunda guitarra e o som ficou de facto melhor.
Fui com José Afonso e Durval Moreirinhas tocar aos Bombeiros Voluntários Lisbonenses, um espectáculo de apoio a Carlos Antunes do PRP que se encontra já há oito dias em greve de fome na prisão de Caxias.
Ontem, dia 1?, fui aos anos de Jorge Tuna, acompanhado por Armando Luís de Carvalho Homem, Durval Moreirinhas e a Isabel. Ofereceu-nos um excelente jantar. Tocámos “Flores em Abril”. Cantaram Sutil Roque e António Bernardino. À vinda, na subida de Alcântara para a ponte 25 de Abril, despistei-me com o meu Cortina GT e fui de encontro à divisória central, ficando virado em sentido contrário.
Estive com Armando Luís de Carvalho Homem num jantar da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra. Acompanhou-nos também António Toscano e o Jacques. Cantaram Luiz Goes , Carlos Teixeira e Ângelo de Araújo. Toquei “Flores em Abril” e “Variações sobre o tom de Lá”. Foram peças muito aplaudidas. A Isabel ouviu dizer a seu lado “este guitarrista toca mesmo bem”. Felizmente, estas bocas não me sobem à cabeça! No final fomos para a “tasca” do Rui Gomes Pereira, o restaurante Conde Andeiro.
Esteve em Almada, na minha casa, um guitarrista clássico de nome Eudoro, a pedir para lhe ensinar guitarra portuguesa. Trazia uma guitarra semelhante à minha primeira, do Zacarias. Ficou de cá voltar. Tocou umas peças clássicas na viola. Vê-se que já tem um bom desenvolvimento de dedos. Disse que vai fazer o 6º ano, na Academia dos Amadores de Música. É aluno de José Miguel Coutinho.
Nos dias 9 e 10 de Julho gravei com José Afonso o “Vira de Coimbra” e a “Senhora do Almortão” e a 29, “Balada do Outono”. Gravei novamente a introdução do “Vira de Coimbra”, pois a afinação da primeira não estava perfeita.
Comecei no domingo, 2 de Agosto, a compor uma nova peça a que vou concerteza chamar “Estudo em Bordões”. Tem uma parte em harmónicos, o que penso ser inédito em guitarra portuguesa.
Mais uma música começada a 7 do mesmo mês. A tonalidade é sol maior, com passagem a mi menor. Incluí uma parte que encontrei no gravador e que já tinha sido feita há uns meses atrás. Entretanto o “Estudo em Bordões” está praticamente concluído.
Armando Marta esteve na minha casa em Almada. Continua com uma bela voz embora mais fechada mas, com uns ensaios, vai voltar a abrir. Quer gravar um disco com música regional de Coimbra, na Valentim de Carvalho.
No dia 7 de Setembro saíu o disco “Guitarra Portuguesa – Raízes de Coimbra”, com dez peças minhas para guitarra, que gravei com Armando Luís de Carvalho Homem.
Fui tocar à Amadora, nas escadas da igreja, nas comemorações do 2º aniversário de elevação a cidade. Tivemos um grande sucesso. Acompanhou-me Lopes de Almeida e Durval Moreirinhas.. Cantaram Machado Soares e António Bernardino, duas vozes completamente diferentes, o que tornou o espectáculo mais variado. Na mesma sessão actuou outro grupo constituído por João Moura, à guitarra, e Carlos Caiado à viola. António Nogueira foi o cantor. Gostei imenso deste e dos instrumentistas.

segunda-feira, julho 04, 2005

Texto do Diário de Notícias de 20/06/2005, da autoria de Roberto Dores

Guitolão apresentado em concerto em Marvão
O novo instrumento musical português de cordas, que o guitarrista Carlos Paredes idealizou há vários anos, foi apresentado ao público, no sábado à noite, durante um concerto nas ruínas da cidade romana da Ammaia, em Marvão, incluído no festival de música desta vila. Chama-se guitolão, emite um som mais grave que a guitarra portuguesa e abre as portas a novos repertórios virados, essencialmente, para a música clássica.
Foi o compositor e instrumentista de Portalegre António Eustáquio que estreou a nova sonoridade nacional, num concerto que contou com a presença do Quarteto Ibero-Americano, demonstrando como o guitolão "funciona perfeitamente" em quartetos de cordas", explicou.
Abre-se, desta forma, o caminho "à sua inclusão em orquestras", sublinhou o guitarrista, após o espectáculo, que foi gravado em DVD, para servir de suporte promocional à candidatura de Marvão a Património Mundial.
Segundo avançou Eustáquio ao DN, o guitolão, que não é um instrumento virado para o fado, apresenta como principal característica o facto de ter uma grande abrangência em termos de sonoridade, dando possibilidade para o surgimento de um "repertório novo e para o repertório clássico", com transcrições de música erudita.
O compositor e instrumentista revela que chegou ao contacto com o guitolão através de Luísa Amaro, companheira e Carlos Paredes, tendo já gravado, em guitarra portuguesa, a obra de Vivaldi para alaúde e, mais recentemente, transcrições de sonatas de Bach para órgão. Segundo diz, o guitolão aparece aqui como o instrumento mais adequado para tocar música barroca do que propriamente a guitarra portuguesa, já que apresenta uma sonoridade mais próxima do alaúde.
"Tem um som muito doce, embora quando é necessário, também se consiga obter dele um som forte. No fundo, é um instrumento muito equilibrado, com um leque muito grande de frequências sonoras. Tem graves fundos e também agudos com boa presença", insiste o especialista.
O próprio Carlos Paredes, que propôs a concepção do instrumento também designado por "guitarra portuguesa barítono" a Gilberto Grácio, chegou a gravar temas com o protótipo - chamando-lhe, na altura, citolão - acompanhando a cantora Cecília de Melo e o poeta Manuel Alegre. Já depois do maior vulto da guitarra portuguesa se encontrar doente, Gilberto Grácio aperfeiçoou o guitolão, definindo a sua forma, amplitude do braço, tipo de cordas e afinação, procedendo depois ao registo daquele que, até hoje, é o único exemplar, sendo considerado pelos especialistas como estando "à altura do sonho de Carlos Paredes". (Fim do texto do DN)
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Em conversa com Gilberto Grácio, há uns dias, verifiquei que este estava desgostoso com as notícias que vieram nos jornais sobre o guitolão. Confundem o "guitolão" com o "guitarrão" ou "guitarra portuguesa barítono", construído em 1970, a pedido de Carlos Paredes. Tratou-se apenas de uma guitarra com o braço mais comprido, tornando-se a sonoridade mais grave, por esse facto. Foi com ela que Carlos Paredes gravou com Cecília Melo e Manuel Alegre. Este novo instrumento, segundo diz Gilberto Grácio, não tem nada a ver com a experiência anterior. Foi idealizado apenas por ele e acabado em Novembro de 2004. Na próxima quarta feira, dia 6, vai ser apresentado em Lisboa no Museu do Fado, como já foi aqui anunciado. Espero lá estar para ouvir a sua sonoridade.
Para terminar, quero agradecer ao "anónimo" que me enviou o endereço do site onde este texto se encontra.


CD de António Nogueira, "Por ti, fraternidade".
Disco de homenagem a uma grande figura da Canção Coimbrã. A abrir está uma belíssima canção de José Santos, exactamente com o título que dá nome ao disco, na voz de Luiz Goes. Poema, música e voz estão irmanados duma forma singular, de muito bom efeito. Luiz Goes continua sempre jovem; velhos são os trapos, já alguém o disse!
A voz de António Nogueira é bastante expressiva. Nos temas de João Moura tem a sua expressão máxima. Foram peças que ficaram para sempre na nossa memória.
Morreu António Nogueira mas a sua voz vai perdurar eternamente. Posted by Picasa


Contracapa do CD de António Nogueira "Por ti, fraternidade". Posted by Picasa


Antigos Tunos em Condeixa, ontem, com o maestro Augusto Mesquita, durante o ensaio que precedeu o espectáculo,  Posted by Picasa


Antigos Tunos em Condeixa, ontem, durante o ensaio que precedeu o espectáculo. Posted by Picasa

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