sexta-feira, maio 20, 2005

Vitória sobre os medos

Por Jorge Gomes *

Quando, em Maio de 1978, nos lançámos no propósito de dar continuidade oficial ao trabalho do ensino da guitarra coimbrã, estava instalada em Coimbra a demolidora guerrilha cultural que dominou o espaço português.
O “Neo-baladeirismo” imposto, para além de constituir uma resistência ao trabalho sério, conseguia, com o véu do medo, estrangular a livre criação musical, pela limitação e exclusão de modelos e meios pré-existentes. Tentava-se, deste modo, criar o vazio dos parcos meios e critérios didácticos, que tinham acompanhado o percurso musical de uma cidade, traduzidos na versão oral mais popular de gerações de futricas e estudantes.
A cultura musical coimbrã, na sua vertente instrumental guitarrística, encontrava-se numa situação profundamente desarrumada e confusa. O amontoado de peças que, ao longo de quase um século se foi transmitindo e reproduzindo em Coimbra e no país, originou um vasto e penoso trabalho de investigação e identificação de peças, técnicas de execução e fundamentalmente na descoberta de um método de aplicação polivalente que resolvesse as dificuldades do ensino e execução de um instrumento tão pouco estudado por alguns.
É este trabalho, que dura há 18 anos, não individual, mas colectivo, de uma escola anónima que tem durado, aberta e sem donos, que tem feito em cada discente um investigador e um cultor, aberto à difusão de um conhecimento crítico e abalizado, que agora dá o fruto mais desejado, pela mão de um dos seus intervenientes.
Da sua mão saíu um método capaz de vencer e colmatar as dificuldades e os pontos negros do ensino da guitarra.
O seu autor, peça dessa geração atrevida e crítica, colocou generosamente ao alcance de todos, os meios de valorização da aprendizagem da guitarra, pousando uma pedra sobre quem sonega o seu conhecimento ou dele se quer apropriar, indevidamente.

* Instrumentista popular (guitarra portuguesa)

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